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quarta-feira, novembro 05, 2014

Pessoas menos inteligentes tendem a ser mais conservadoras e preconceituosas

Com a onda de conservadorismo em nosso país, não resisti a publicar em meu blog um pequeno artigo que cita uma pesquisa a relação do conservadorismo com a inteligência.
A deguste de vocês:

"Não é nova a ideia de que o conservadorismo e o preconceito estão ligados umbilicalmente. Vários estudos já realizados chegaram a essa conclusão. 
A novidade é que o posicionamento conservador e o preconceito podem estar ligados à baixa inteligência.
Um estudo feito por pesquisadores de uma universidade de Ontario, no Canadá, chegou a conclusões bastante interessantes: adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas tendem a ter atitudes conservadoras e preconceituosas (racismo, homofobia, machismo etc).

O estudo foi dirigido pelos pesquisadores Gordon Hodson e Michael A. Busseri, do departamento de Psicologia da Universidade Brock, de Ontario, e foi publicado pela revista Psychological Science.

Os dados levam a crer que as pessoas menos inteligentes se sentem atraídas por ideologias conservadoras porque estas exigem menos esforço intelectual, pois oferecem estruturas ordenadas e hierarquizadas, onde o indivíduo pode se sentir mais confortável.

É bom deixar claro que inteligência nada tem a ver com escolaridade. Há vários exemplos históricos (como a Comuna de Paris ou a Revolução Russa) em que as classes mais baixas e com menos escolaridade se mostraram as únicas capazes de pensar de maneira progressista.

Hodson afirma que “menor capacidade cognitiva pode levar a várias formas simples de representar o mundo e uma delas pode ser incorporada em uma ideologia conservadora, onde ‘pessoas que eu não conheço são ameaças’ e ‘o mundo é um lugar perigoso ‘…”.

A grande contribuição dessa pesquisa pode ser a criação de novas formas de combater o racismo e outras formas de preconceito. “Pode haver limites cognitivos na capacidade de assumir a perspectiva dos outros, particularmente estrangeiros”, entende Hodson, já que a crença corrente é que o preconceito tem origens emocionais, não cognitivas.
http://psiconlinebrasil.blogspot.com.br/2014/10/pessoas-menos-inteligentes-tendem-ser.html"


quinta-feira, outubro 09, 2014

Psicologia e racismo: o desafio de romper a omissão



Reproduzo Aqui em meu blog um ótimo artigo e entrevista, ajudando a romper com a omissão, que é também minha prática nos trabalhos na área social e clínica que desenvolvo. O link está ao final

Mestre em Psicologia Social Valter da Mata defende a necessidade de se rever algumas das lógicas reproduzidas pela Psicologia brasileira, que precisa dar mais atenção ao problema do racismo.
Por Jarid Arraes
No Brasil, há uma profunda dificuldade em se ter acesso a dados sobre a saúde mental da população negra. Isso acontece porque a cor não é uma informação coletada e analisada pelos órgãos responsáveis, como se o recorte racial fosse irrelevante para compreender os transtornos mentais. Para entender melhor sobre o tema, é preciso se aprofundar na busca de trabalhos acadêmicos pontuais e livros escritos por psicólogos que, não por acaso, são na maioria das vezes pessoas negras.
Segundo um artigo publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria e disponível no Scielo, “os sujeitos de cor negra permaneceram, em média, 71,8 dias internados [em hospitais psiquiátricos], enquanto os de cor parda permaneceram 20,3 dias e os de cor branca, 20,1 dias”. No entanto, é importante perceber que essas pessoas são as que se encontram nos quadros mais agudos de desamparo, pois não recebem visitas e, muitas vezes, não possuem familiares ou amigos que possam oferecer assistência após o período de internação.
Um exemplo desse tipo de equívoco quanto ao recorte racial dos transtornos mentais, especialmente se tratando do acolhimento de pessoas negras, pobres e moradoras de rua, aconteceu no dia 6 de fevereiro de 2013 no Crato, cidade que fica na região do Cariri, interior do Ceará. Um cidadão negro chamado Francisco do Nascimento, que sofre de transtornos mentais, entrou em surto no centro da cidade após ser insistentemente maltratado e provocado pelas pessoas ao seu redor, que rejeitavam a sua presença nas calçadas e arredores. Francisco foi amarrado a um poste por dois agressores e a polícia foi chamada ao local, onde os policiais se negaram a socorrer e transportar o homem a um centro onde pudesse ser atendido. Por horas preso sob tratamento humilhante e desumano, o cidadão virou personagem principal de uma situação lamentável, onde as pessoas o observavam como um ser exótico e conviviam naturalmente com a imagem de um homem negro amarrado em praça pública.
A humilhação pública de Francisco do Nascimento (Foto Raquel Paris)
Em relato sobre o caso publicado no blog da jornalista Raquel Paris, alguns pontos importantes são apresentados no desfecho da situação: “Por fim, soldados do Corpo de Bombeiros o desamarraram e encaminharam Francisco ao único hospital psiquiátrico de toda região. Chegando ao Santa Tereza, foi admitido e medicado. No dia seguinte, atendido pela psicóloga Leda Mendes Pinheiro, reclamou da forma com que foi tratado e principalmente por nem água ter bebido. Segundo ele, sua intenção era juntar o lixo da rua. Tudo se transformou em caso de polícia quando os lojistas foram hostis e ele reagiu com hostilidade. Ainda segundo a psicóloga, ele estava bem, orientado e participando das atividades”.
No entanto, a realidade da população de rua e das pessoas negras que acabam necessitando de atendimento psiquiátrico e internações não é a única face do racismo como problema de saúde mental. O racismo vigente no Brasil causa prejuízos à autoestima e autonomia das pessoas negras e suas consequências são seríssimas em diversos âmbitos subjetivos e sociais. De uma forma ou de outra, esse conhecimento não é devidamente divulgado e, ao contrário de diversos outros temas relacionados à Psicologia, o conteúdo sobre o assunto é escasso até mesmo na internet.
Além disso, as ações promovidas pela Psicologia brasileira, representada por seus órgãos responsáveis e instituições de ensino, são extremamente pontuais, tímidas e, quando ocorrem, limitadas ao âmbito acadêmico.
O racismo não é problema da Psicologia?
Valter da Mata é psicólogo, mestre em Psicologia Social e professor universitário, além de ser membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia. Ele está envolvido em diversas atividades e reivindicações para que a Psicologia dedique mais atenção ao problema do racismo no Brasil e fala abertamente sobre a necessidade de rever algumas das lógicas reproduzidas pela Psicologia brasileira. Em entrevista concedida à Fórum, da Mata discorre sobre o problema do racismo no Brasil e por que a Psicologia deve se debruçar para combatê-lo. Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Fórum – Como surgiu o seu interesse pela temática racial na Psicologia? 
Valter da Mata – Ainda estudante, fui convidado por uma ONG, na época chamava-se Cooperativa Educacional Steve Biko, para ministrar uma disciplina chamada CCN – Cidadania e Consciência Negra. Em contato com os estudantes desta instituição, pude ver por um outro prisma os impactos do racismo na construção psíquica daquelas pessoas. Baixa autoestima, que se caracterizava por escolhas de carreiras baseadas nas menores concorrências; identidade étnicorracial fragmentada, geralmente com negação das referências africanas. Daí por diante, levei essas inquietações para minha formação.
Fórum – Foi difícil encontrar produções voltadas para o assunto?
Da Mata – Publicações na Psicologia, quase nenhuma, tive que me orientar por psicólogos norte americanos e textos de antropologia e sociologia. Na década de 1990, a produção acadêmica sobre relações raciais da Psicologia brasileira era pífia.
Fórum – Como você enxerga a formação da Psicologia no Brasil hoje? O racismo é um tema abordado nas grades curriculares? 
Da Mata – A formação da Psicologia no Brasil passa por um momento de transformação, mas ainda muito lenta. Parece que a fase de casulo ainda vai demorar. As Instituições de ensino, aliadas à representação social do trabalho do psicólogo, continuam privilegiando o trabalho de clínica individual no consultório como o principal. Parece que ainda não se ligaram no contexto atual, onde cresceu assustadoramente o número de cursos de Psicologia em todo Brasil, além da necessidade de ocupação de postos nas mais diversas políticas públicas.
Desconheço completamente a abordagem do racismo nos cursos de Psicologia, mesmo sendo um tema que pode ser discutido em todas as disciplinas. Vejo isso mais enquanto iniciativas particulares de alguns professores. Infelizmente a maioria, mesmo tendo a obrigação de fazer a inclusão do tema, não o faz. Essa obrigação é devido as leis 10639 e 11645, que determinam o ensino da história e cultura dos povos africanos e indígenas, além de temas correlatos, desde o ensino fundamental até o ensino superior.
Fórum – Mesmo com mais de 50% da população sendo autodeclarada negra, por que é tão raro encontrar disciplinas e eventos acadêmicos na Psicologia voltados para o problema do racismo?
Da Mata – O motivo para isso? Difícil responder um único motivo, provavelmente deve ser multifatorial: acredito que parte minimiza o problema, tratando-o como algo menor; outros devem acreditar que a Psicologia nada tem a ver com isso; outros devem acreditar no mito da democracia racial, onde existe uma convivência pacífica entre as raças; outros adotam o discurso antirracistas blasé, onde não existem raças, somente uma única, a humana, e falar de racismo e de raças seria acirrar os ânimos, num típico discurso “deixa quieto”. Enfim, são múltiplas.
Fórum – Independente da abordagem psicológica escolhida pelo aluno ou profissional, é possível tratar o racismo como algo que gera sofrimento psíquico? É possível ir a fundo nessa questão e dar ao racismo um tratamento similar ao dado para questões como depressão, estresse, ou até outros transtornos mentais?
Da Mata – Não conheço todas as abordagens psicológicas, portanto fica difícil responder com precisão essa pergunta. Mas para mim a primeira coisa que o profissional ou estudante pode e deve fazer, é acreditar que o racismo existe no nosso país e que ele pode gerar sofrimento psíquico. Uma situação de discriminação racial, das mais sutis possíveis, pode vir a desencadear situações de extrema angústia, refletindo decisivamente na autoestima do indivíduo. A discriminação racial não pode ser tratada como algo “natural” ou “normal”, é algo que humilha e faz sofrer. Evidentemente, cada sujeito elabora de acordo com seus repertórios cognitivos e culturais cada demanda.
Fórum – Muitas pessoas negras que buscam psicólogos relatam casos de discriminação na psicoterapia. Muitas vezes, esses profissionais tratam o racismo como um problema individual e até mesmo de “paranoia” ou “síndrome de perseguição”, chegando à culpabilização da pessoa negra, que é revertida como racista por enxergar racismo em toda parte. Como trabalhar melhor essas questões na psicoterapia, já que a psicoterapia é uma prática difícil de se “fiscalizar” e acompanhar?
Da Mata – Temos que entender o contexto em que se dá essas relações. A Psicologia se estabeleceu como uma ciência burguesa, exercida por e tratando burgueses. O padrão de normatividade também segue o que advém da burguesia. O Brasil foi forjado no mito da democracia racial, que foi e de certa forma ainda é, uma justificativa perfeita para explicar as condições materiais, psicológicas, de status e tantas outras: a própria incompetência, algo inato da raça negra. Esse mito esconde os privilégios historicamente destinados à população branca e assim tomar essa “superioridade” enquanto algo natural. Esse pano de fundo se torna um terreno fértil para o psicólogo que não se dedica a estudar as relações raciais cair na vala do senso comum e acusar a vítima como culpada da sua situação. Chamo isso de “crimes perfeitos”, onde a própria vítima é a culpada, muito parecido com os casos de estupro, onde as mulheres são vistas enquanto culpadas pelo ato. Creio que fiscalizar a prática desses profissionais é difícil, mas cabe realmente ao cliente denunciar, mesmo sendo difícil provar o ocorrido, cabe uma acareação, cabe uma orientação por parte do Conselho Regional, cabe apresentar a resolução 18/2002. Provavelmente esse comportamento tenderá a desaparecer, uma vez que essa prática poderá colocar sua atuação profissional em risco.
Fórum – Como cobrar os conselhos regionais e federal para que desenvolvam iniciativas e eventos voltados para a discussão e o combate ao racismo? Estudantes e profissionais podem exigir isso dos conselhos?
Da Mata – Os profissionais e estudantes podem e devem exigir dos conselhos toda e qualquer discussão de interesse dos mesmos. O Congresso Nacional da Psicologia aponta como diretriz a ser contemplada pelas gestões regionais e federal abordar as questões étnicorraciais, portanto ao realizar essas ações, os conselhos regionais estão cumprindo as diretrizes nacionais da Psicologia.
Fórum – Na sua perspectiva, é um desafio para a Psicologia levar esse tema para além dos ambientes acadêmicos? 
Da Mata – A Psicologia por muito tempo ratificou as diferenças raciais. Testes de inteligência e tantos outros foram utilizados para ratificar a superioridade da raça branca. No Brasil, a Psicologia após da década de 1950 calou-se diante da temática, deixando a discussão para outras ciências como a Sociologia e Antropologia. Entretanto é o discurso psicológico que pode estudar, avaliar e entender os efeitos subjetivos do racismo. Saber em que medida essa chaga interfere nas relações entre as pessoas baseados nos seus traços fenotípicos, especialmente no que diz respeito a construção das identidades pessoal e social.
Fórum – O Código de Ética do Psicólogo diz que é proibida a manifestação de opiniões discriminatórias. Se um profissional manifesta opiniões racistas nas redes sociais, por exemplo, como levar esse problema para os conselhos? É possível?
Da Mata – Essa proibição está bem explicitada na resolução 18/2002, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao preconceito e discriminação racial. Caso o profissional manifeste opiniões racistas cabe a outros psicólogos, a sociedade e até mesmo o próprio conselho fazer a denúncia. Na minha prática docente, faço questão de apresentar a resolução a todos os alunos, enquanto conteúdo básico da disciplina.
Fórum – Afinal, qual é o papel da Psicologia na luta contra o racismo brasileiro?
Da Mata – Podemos dizer que somente no século XXI a Psicologia acordou para estudar o fenômeno do racismo e suas repercussões psicológicas. Por décadas psicólogos desenvolveram teorias que sustentaram e ratificaram o binômio superioridade/inferioridade das raças humanas. No Brasil, temos a forma mais sofisticada de racismo já elaborada, sem leis explícitas que ratifiquem a exclusão, é um racismo que vai sendo veiculado em doses às vezes homeopáticas, às vezes cavalares, no cotidiano. Os atores sociais vão assimilando essas crenças, que determinam lugares, justificam o status quo, dentre outras consequências. Cabe à Psicologia, juntamente com outros saberes, ajudar a decifrar esse enigma, essa ideologia perversa que aprisiona e produz sofrimento de diversas ordens. Cabe aos psicólogos enfrentarem o mito da democracia racial, dentre tantos outros mitos, para que possamos criar uma ciência e profissão realmente engajada na promoção dos direitos fundamentais, para a construção de uma sociedade equânime.

http://revistaforum.com.br/digital/167/psicologia-e-racismo-o-desafio-de-romper-omissao/

quarta-feira, outubro 01, 2014

RECEITA PARA ARRANCAR POEMAS PRESOS



A maioria das doenças que as pessoas têm
São poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras
calcificadas,
Poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.
Pessoas às vezes adoecem da razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima
Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor.
Tempo derretido é poema
Você pode arrancar poemas com pinças,
Buchas vegetais, óleos medicinais.
Com as pontas dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poemas com banhos
De imersão, com o pente, com uma agulha.
Com pomada basilicão.
Alicate de cutículas.
Com massagens e hidratação.
Mas não use bisturi quase nunca.
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas,
Endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los,
Das dobras dos dedos dos pés, das vértebras.
Dos punhos, das axilas, do quadril.
São os poema cóccix, os poemas virilha.
Os poema olho, os poema peito.
Os poema sexo, os poema cílio.
Atualmente ando gostando de pensamento chão.
Pensamento chão é poema que nasce do pé.
É poema de pé no chão.
Poema de pé no chão é poema de gente normal,
Gente simples,
Gente de espírito santo.
Eu venho do espírito santo
Eu sou do espírito santo
Trago a Vitória do espírito santo
Santo é um espírito capaz de operar milagres
Sobre si mesmo.
- Viviane Mosé é psicóloga e psicanalista, especialista em elaboração de políticas públicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

segunda-feira, setembro 22, 2014

Existe uma droga do Amor?

Produzimos uma droga do amor: A OCITOCINA.
Ela é um hormônio produzido principalmente pelo hipotálamo (uma região do cérebro do tamanho de uma amêndoa localizada perto do tronco cerebral, que liga o sistema nervoso ao sistema endócrino através da glândula pituitária),  liberada diretamente no sangue através da glândula pituitária, ou para outras partes do cérebro e da medula espinhal.
Pesquisas que começaram a ser realizadas na década de 90, vem demonstrando que a Ocitocina traz efeitos  em várias áreas de nossas vidas.
Ela está presente em mulheres e homens.
Ela é liberada durante o ato sexual, na hora do orgasmo.
Pesquisas indicam que a ocitocina faz com que os nervos nos órgãos genitais  sejam estimulados  de forma espontânea.
Durante o orgasmo, o nível  de ocitocina masculino quintuplica e em mulheres isso ocorre com maior ênfase. O cérebro da mulher é inundado com ocitocina.

A ocitocina também estimula o desejo, por isso é chamada de "hormônio do aconchego".
Ela é liberada em resposta a estímulos, como o toque e estimula o desejo de ser beijado(a), abraçado (a).
Os nervos em zonas erógenas, tais como os lóbulos das orelhas, pescoço e genitais tornam-se sensibilizados pelos efeitos da ocitocina.
Ao mesmo tempo sendo liberada a ocitocina, libera a endorfina e a tetosterona, que provoca no corpo excitação biológica e psicológica.

Mais seus efeitos em nós, são ainda maiores. Ela permite que tenhamos conexões profundas com as pessoas e até mesmo os nossos animais de estimação.
Conexões profundas são baseadas em afeto verdadeiro e genuíno, que permitem que relações sejam duradouras.

A ocitocina pode  ser responsável por transformar experiências potencialmente estressantes em oportunidades para expressar amor e alegria.
Ela ajuda a reprimir lembranças dolorosas; ajuda a regular os padrões de sono, acalmá-lo e contribui para uma sensação geral de bem-estar.
Acredita-se que a ocitocina tem capacidade de combater o stress e os efeitos do hormônio do estresse cortisol.
O stress agrava as doenças. Para se ter saúde é necessário se aliviar o stress.

Esse hormônio é produzido sinteticamente, com uso para facilitar a amamentação e para induzir o parto nas mulheres com mais de 41 semanas de gestação, através de um spray nasal. Endocrinologistas brasileiros também dizem que seu uso em homens é capaz de deixá-los menos agressivos, mais amáveis, generosos e com comportamentos sociais mais adequados.

Lembremos que mesmo tendo um potencial em nós, como o hormônio ocitocina, ele pode não ser liberado para nos causar essas sensações.
Não existe uma função biológica dissociada das funções psicológicas, do sentir, do se emocionar.  A emoção é causa e conseqüência.
Também não existe uma função biológica dissociada da função psicológica do pensamento de bem ou mal estar. Esses pensamentos são causas e conseqüências, que interagem, também com o sentir, com nossas emoções.

O corpo pode reagir, pode voltar a liberar a Ocitocina, mas para isso precisamos liberar as emoções e pensamentos aprisionados no corpo.
Não é apenas uma questão de liberar o segmento pélvico, mas também o segmento toráxico e o ocular, e os outros segmentos estarem menos encouraçados.

Vivemos a vida, como a olhamos e a sentimos e com isso nosso corpo reage.

Tania Jandira R. Ferreira
Setembro de 2014

domingo, agosto 24, 2014

O problema do Aprendizado e o aprendizado como problema




Ontem, sábado dia 24 de agosto, acabei de dar um curso sobre elaboração de projetos sociais, convidada pelo CEAP – Centro de Articulações de Populações marginalizadas, e hoje me deparo com esse excelente artigo de Henrique Iafelice. Não resisti, repasso por aqui. Ele reflete tudo o que penso e tento repassar com minha práxis.
Este  pequeno vídeo, se chama: “aprender a aprender”  que por imagem transmite o mesmo recado do artigo que replico abaixo:



“Deleuze nos diz que o pensar sempre se faz a partir de encontros, de afetos ou signos. Algo nos força, nos violenta, nos impele a pensar. Muito foi dito sobre a boa natureza do pensamento, ou seja, imagina-se o pensamento como algo que possui em si mesmo uma boa vontade para o pensar. A própria tradição filosófica foi a responsável por afirmar a boa vontade do pensamento em conhecer. Todos nós conhecemos a famosa frase de Aristóteles no início de sua obra Metafísica: “Todos os homens, por natureza tendem ao saber”. Esta imagem do pensamento inaugurada pela Filosofia está presente no próprio pensar como seu pressuposto, determinando assim toda e qualquer forma de pensamento. A imagem do pensamento é o pano de fundo ou o pressuposto do pensar que, neste caso, em vez de revelar a natureza violenta do pensamento, atribui a ele uma natureza dócil e de boa vontade. “O bom senso ou o senso comum naturais, são, pois,  tomados como a determinação do pensamento puro”. (DELEUZE, 2006b, p. 194). O filósofo, a partir da imagem do pensamento, afirma que o pensador quer o verdadeiro, pois é da natureza do pensar amar a verdade. Assim, de forma premeditada, a imagem do pensamento determina a própria busca do pensador: ele, enquanto pensador, está determinado a buscar o verdadeiro.
          Deleuze nos convida a duvidar desta boa natureza do pensamento, ou seja, desta imagem do pensamento presente na própria Filosofia:
Quando a filosofia encontra seu pressuposto numa imagem do pensamento que pretende valer de direito, não podemos, então, contentar-nos em opor-lhes fatos contrários. É preciso levar a discussão para o plano de direito e saber se esta  imagem não trai a própria essência do pensamento como pensamento puro. (DELEUZE, 2006b, p.194).
          Em seu livro Proust e os signos, Deleuze diz que Proust “tocou no essencial quando afirmou que “as verdades permanecem arbitrárias e abstratas enquanto se fundam na boa vontade do pensar. (DELEUZE, 2003, p. 89). A própria  palavra “filósofo” já revela em si mesma esta arbitrariedade. Inversamente do que muitos pensam,  a palavra amigo  revela uma fraqueza: os amigos buscam se afastar dos conflitos de ideias; eles se afirmam a partir do próprio convencionalismo, pois  uma exposição de suas diferenças poderia abalar a própria essência da amizade que os une. Todos os amigos parecem afirmar um certo acordo de significações, e se tal acordo não se estabelecer, fatalmente a amizade será de alguma forma abalada em sua própria estrutura. Assim, a amizade se estabelece, antes de tudo, no convencionalismo de opiniões e ideias. Tanto a Filosofia quanto a amizade, diz Proust, se distanciam da busca da verdade. De acordo com Deleuze: “Sem algo que nos force a pensar, sem algo que violente o pensamento, este nada significa. “Mais importante do que o pensamento é o que ‘dá a pensar’; mais importante do que o filósofo é o poeta”. (Deleuze, 2003, p. 89). É somente a partir dos afetos, ou seja, dos encontros, que podemos ir além das nossas próprias opiniões e limites.  Afastados daquilo que nos movimenta, não podemos sair do campo dos determinismos inteligíveis da representação ou da base identitária  de um “eu” psicológico.
          Percebe-se que o pensamento como boa vontade não abre espaço para a criação. O ato criativo se faz sempre a partir de um encontro, de algo que involuntariamente nos desloca e nos afeta, desestabilizando  nossas próprias certezas, abrindo em nós um espaço para o impensável do próprio pensar. Nossa educação escolar, de forma geral, parece desconhecer o valor do encontro, do involuntário, dos afetos e dos signos que nos impelem a pensar. Ao contrário, parece reconhecer apenas as verdades aprendidas pela representação ou pela recognição que têm como fundamento apenas  imagens e semelhanças  com algo  já-conhecido, um já-pensado, com um saber já-pronto e acabado.
O problema, porém, reside no fato de que terminamos por confundir o “reconhecer” com o “pensar”. Ora, o pensamento não tem uma função meramente recognitiva; aliás, ele não tem jamais tal função – se o tomamos em seu aspecto criativo [...]. Somente o pensamento, enquanto potência criadora, pode romper definitivamente com a representação e a recognição e apreender as coisas em sua singularidade, em sua diferença essencial. (SCHÖPKE, 2012).
          O modelo pedagógico tradicional é efeito e resultado de uma “imagem do pensamento” que se afirmou na própria tradição filosófica. Tal modelo se estabeleceu na afirmação de um pensamento que, indiferente a toda forma de devir, buscou a certeza do permanente, ou seja, na determinação da forma, da substância ou ainda  do sujeito do conhecimento. Contrariamente a esta tradição, Deleuze afirma uma outra forma de aprendizado não baseada nas recognições ou nas representações comuns à Filosofia. Segundo Deleuze, o que o filósofo postula como universalmente reconhecido é somente o que significa pensar, ser e eu, quer dizer, não isto ou aquilo, mas a forma da representação ou da recognição [...]. É porque todo mundo pensa naturalmente  que se presume que todo mundo  saiba implicitamente o que quer dizer pensar. A forma mais geral da representação está, pois, no elemento de um senso comum como natureza reta e boa vontade (Eudóxio e ortodoxia). O pressuposto implícito da Filosofia encontra-se no senso comum como cogitatio natura universalis, a partir do qual a Filosofia pode ter seu ponto de partida. (DELEUZE, 2006b, pp.191-192).
          Para Deleuze, aprender não se reduz às verdades apreendidas pela inteligência por meio do uso comum das faculdades. Muito mais do que isso, aprender diz respeito a chegar ao limite dessas mesmas faculdades: percepção, memória, imaginação, inteligência e pensamento podem simplesmente estar atuando de forma voluntária, dentro de uma zona de normalidade e conforto. Ou seja, somente quando essas faculdades se veem diante do encontro com o diferente e com o inusitado gerados a partir dos signos (afectos) é que elas podem ir além do seu uso comum. Por isso, Deleuze escreve: “Há sempre a violência de um signo que nos força a pensar, que nos tira a paz. (DELEUZE, 2003).
          Segundo Deleuze, o mundo não é algo dado, mas sim, algo a ser decifrado e decifrá-lo é um dom. (DELEUZE, 2003, p. 25). E não há outro caminho para aprendermos a decifrá-lo a não ser pelos encontros. Porém, estes encontros podem vir carregados de crenças que, de certa forma, nos distanciam do conhecimento. Como vimos, um afecto é um signo. Uma marca, um efeito que pode ter vários sentidos. “Aprender diz respeito essencialmente aos signos”, nos diz Deleuze. Toda aprendizado é um decifração de signos. Não há aprendizado que não passe por este processo de significação, pelo  ato de capturar um signo, de apreender um signo:
Nunca se sabe como uma pessoa aprende; mas, de qualquer forma que aprenda, é sempre por intermédio de signos, perdendo tempo, e não pela assimilação de conteúdos objetivos. Quem sabe como um estudante pode tornar-se repentinamente “bom em latim”, que signos (amorosos, ou até mesmo inconfessáveis) lhe serviram de aprendizado? (DELEUZE, 2003, p. 21).”


 

sábado, agosto 09, 2014

CASAR E MORAR JUNTO


"Casar e morar junto são duas coisas completamente diferentes. 
Não tem nada a ver com seu status no cartório. Tem a ver com entrega. 
Você pode casar com todas as honras. Dar uma festa linda. Gastar os tubos na Lua de Mel. Se mudar com o marido para um apartamento lindo, pronto,decorado, cheio de almofadas em cima da cama… Vocês podem ter se casado – mas vão demorar muito pra saber o que é morar junto. 
Acho que existem casais que se casam com pompas, e nunca talvez tenham realmente morado juntos. 
Morar junto é saber dividir. Saber cobrar. Saber ceder. Saber doar. 
Morar junto é dividir as contas e as almas. 
Morar junto é ter um pilha de louça pra lavar, depois de um dia terrível de 10 horas de trabalho. E o outro cantar com você( em um karaokê com detergente) para que o trabalho se torne divertido. 
Morar junto é ter que assistir Homem Aranha no Telecine Action, e se esforçar para achar legal. 
Morar junto é tomar banho junto.Transformar o chuveiro em uma cachoeira. 
Morar junto é ouvir onde dói no outro. Do que ele sente medo. Onde ele é criança. O que o deixa frágil. Morar junto é poder chorar sem parar. E ser ouvida. E cuidada. 
Mas é também rir. E achar graça em alguma coisa, quando o outro está pra baixo. 
Morar junto é fazer contabilidade de frustrações, e saber quando não colocar na conta do outro. 
Morar junto é demorar para levantar. 
Morar junto não precisa de uma casa, e sim de um espaço. 
Quem mora junto geralmente é solidário. 
Casar não. Qualquer um casa. Pra casar basta assinatura e champanhe. 
Casar leva umas horas. Morar junto leva tempo. O tempo todo. 
Quando moramos juntos vemos o cabelo dele crescer e ela cortar uma franja. 
Quando moramos juntos viramos adultos aos pouquinhos, dando um adeus doído ao adolescente que éramos. 
Quando moramos junto mudamos junto. E o outro vira um outro diferente com os anos. E nós vamos aprendendo a amar aquela nova pessoa, todo dia. 
Até o dia que, talvez, deixemos de morar juntos...."

Gostei muito desse artigo e por isso reproduzo aqui. Ele é de Roberta Nader, em : http://priscilanicolielo.com/2014/04/29/casar-e-morar-junto/

terça-feira, julho 22, 2014

O CORPO PRECISA VOLTAR A SENTIR



Vídeo curtinho, 5 min. onde Alexander Lowen explica em traços gerais o que consiste a bionergética, psicoterapia corporal criada por Lowen e Pierrakos, discípulos de Wilhelm Reich.
A bionergética entende que vivemos dissociados do sentir, do nosso corpo que conta nossa história.

segunda-feira, julho 21, 2014

SEPARAÇÕES LÍQUIDAS

Reproduzo aqui o  ótimo artigo de Fabrício Carpinejar, que questiona as relações atuais, os sentimentos que as movem, baseado num conceito de Baumann sobre a liquidez da sociedade moderna.



"Casar virou namorar, namorar virou ficar, ficar virou provar.


Acredito que todo mundo casa fácil porque é também muito fácil se separar.

Nos anos 70, o casamento era medido por décadas. Mesmo quando um casamento fracassava, durava no mínimo duas décadas.

Nos anos 80, o casamento era medido por anos. Mesmo quando um casamento desmoronava, durava no mínimo cinco anos.

O casamento hoje é por dia. Como se fosse hotel.

Agora, o matrimônio cobra diária. Todo dia é dia de se separar. E por qualquer coisa.

Las Vegas do divórcio é aqui.

Você pode sair de manhã, eufórico e confiante, extremamente disposto, seguro do romance, e quando voltar à noite não encontrar mais ninguém ao seu lado.

Se cometeu uma falha, nem terá oportunidade de se explicar. Se não errou, nem terá chance de entender e desfazer confusões.

É tão simples se divorciar que ninguém mais pretende se estressar. Não há nem o civilizado e educado aviso de despejo. É dar as costas, largar o passado e seguir adiante. Quebrou o amor, troca! Quebrou o amor, compra outro! Quebrou o amor, não vale investir consertando!

Os casais não brigam mais até cansar para, então, se separar. Não brigam mais até esgotar as possibilidades para, então, se separar. Não tentam durante semanas e semanas expor as dores, as feridas e a raiva para, então, se separar. Não recorrem ao choro, à histeria, ao perdão, ao abraço, ao exorcismo, aos centros religiosos, aos amigos, aos parentes para, então, se separar.

A separação vem antes. A separação é a regra. A separação é o hábito. A separação é seca, definitiva, sem explicações.

As pessoas se separam primeiro para depois discutir. As pessoas se separam primeiro para depois conversar. As pessoas se separam primeiro para depois desabafar o que incomoda.

Elas arrumam todas as malas, esvaziam os armários, realizam a limpa no apartamento e depois, se houver vontade, se encontram e sentam frente a frente para resolver as diferenças.

São uniões interrompidas com silenciadores, distante de estampidos e gritos.

Ninguém se separa de fato, todo mundo deserta, todo mundo abandona a convivência.

É uma irresponsabilidade extraordinária com o outro, é uma indiferença tremenda ao que foi construído com o outro, é um desprezo ao que foi sonhado a dois.

E os motivos podem ser os mais loucos e insignificantes. O desenlace não ocorre mais por justificativas duras como adultério e deslealdade.

Há gente que se separa por incompatibilidade de gênios (expressão que denuncia megalomania, o correto seria incompatibilidade de burros).

Há gente que se separa porque não suporta o medo de ser traído.

Há gente que se separa porque estava muito feliz e não aguentava tamanha pressão.

Há gente que se separa porque se viu entregue ao relacionamento e estava perdendo a identidade.

Há gente que se separa porque não sabia mais o que estava fazendo da vida.

Há gente que se separa porque não esperava que fosse assim.

Atualmente entra-se numa relação e não se fecha a porta – a porta permanece encostada o tempo inteiro."




 

domingo, junho 29, 2014

A Ansiedade na ordem do dia



Alguns pensadores definem os tempos atuais, como a “Idade da Ansiedade”, por conta do tipo de sociedade em que vivemos que gera indivíduos competitivos, consumistas, com grande exigência da auto-imagem, sob estresse constante. O estresse passou a ser o representante psíquico da ansiedade.
A ansiedade está na ordem do dia.
Ansiedade tem origem na palavra grega “anshein” que tem o significado de “estrangular, oprimir, sufocar”.
Ao ansioso falta ar.
Em nosso dia a dia, somos confrontados, sabendo ou não, com conflitos interpessoais ou psíquicos, causadores de ansiedade.
O estresse não é conseqüência do fato em si, mas de como se reage a este, do significado para a pessoa, de seus mecanismos de defesa e de enfrentamento.
O fato, o motivo é o disparador.
No geral, sintomas de ansiedade vão surgindo sem que se dê conta. O corpo demonstra: taquicardia, alteração na pressão arterial, sudorese, problemas gastrointestinais, tesão muscular, opressão no peito, náuseas, vômito, diarréia, insônia, mal estar respiratório e espasmos.
Há dificuldade na tomada de decisões, baixa concentração e memória, apreensões vagas, preocupações com o futuro, expectativas de que algo ruim possa acontecer.
Em muitos casos progridem, elevando o nível de ansiedade levando, para o que se convencionou chamar atualmente, de transtornos de ansiedade: fobias, ataques de pânico e distúrbio de ansiedade generalizada.
Esses estados podem ser temporários, se tratados corretamente, mas expressam traços de caráter ansioso.
Segundo Wilhelm Reich, o caráter é composto de atitudes habituais, seu padrão de respostas para diferentes situações. O caráter é expresso nos estilos de comportamento, valores e visões do mundo e no corpo.
Ansiosos têm a respiração curta.
A respiração curta e rápida denota ansiedade, insegurança, medo.
O tórax está comprimido.
Assim como os músculos dos ombros e da omoplata, a caixa torácica, as mãos e os braços.
A inibição da respiração serve para suprimir toda a emoção, a raiva, a tristeza, o riso, o desejo.
Respirar é viver, respirar bem implica viver melhor.
A descompressão do tórax em psicoterapias corporais é  realizada  com a o trabalho de respiração, especialmente o desenvolvimento da expiração completa.
A maior parte das pessoas, nem percebe como respira.

Além disso, o caráter do indivíduo é analisado e trabalhado.
A ansiedade, mesmo não evoluindo para um transtorno de ansiedade traz problemas para a pessoa e suas relações.
Todos precisam de ... Ar.
A descompressão do tórax proporciona que as emoções fluam, menos compressão, mais espaço também para o desenvolvimento de auto confiança e expressão do amor que permite se ter expectativas mais positivas, mais realistas e mais integradas com a própria potência.
Afinal, é a potência que se busca nas psicoterapias corporais.
Tania Jandira R. Ferreira

segunda-feira, maio 12, 2014

A CRIANÇA CONCEBIDA COMO “SUJEITO DE DIREITOS”


Foi só a partir da idade moderna que  teorias  focalizaram seus estudos no universo infantil, como a psicologia, a pediatria e a pedagogia. Outros profissionais também começaram a se preocupar com as crianças, como o  assistente social e o  juiz de menores, tornando, dessa forma, a infância uma categoria particular.

Ocorreu também  uma progressiva valorização do lugar ocupado pela criança na família,  tornando o filho, no decorrer do século XIX, o centro desta; passando a ser objeto de investimentos econômicos, educacionais e afetivos.

É neste momento que começou também  a preocupação com a higiene e a saúde da criança.


No Brasil, verifica-se isso, após a chegada da corte portuguesa ao país em 1808.
O maior cuidado com a higiene fez com que as crianças tivessem maior chance de sobreviver. Consequentemente, sua morte passou a ser vivida como um drama.
“Essa vontade de salvar a criança só aumenta ao longo do século XVII... A família moderna, então, preocupada com o futuro dos seus filhos, tentará limitar sua fecundidade”. (ÀRIES, Philippe) (*)


Outra  mudança também pôde ser percebida na inclusão de trajes próprios às crianças.
“A infância passa, então, a se situar numa nova efetividade social enquanto consumidor”. (ÀRIES, Philippe).(**)
Além dos trajes, houve uma gama variada de produtos destinados á infância, como jogos, brinquedos, alimentos e programas de televisão. Também se pode observar que a criança passa a fazer parte de esquemas publicitários, como “garotos (as)” de propaganda.





No Brasil, O Estado a partir do século XIX, começou a tomar para si a responsabilidade com as crianças “vítimas, delinqüentes” ou simplesmente “carentes” (***), vigiando os pais. Se o Estado entendia que os pais não conseguiam cuidar destes filhos, os retirava de sua guarda e os colocavam em instituições que começam a ser criadas como  internatos, orfanatos e reformatórios.
Essa política do Estado tinha como concepção a vigilância das famílias, e se substanciava na substituição do patriarcado familiar por um “patriarcado de Estado.”

O termo “menor” surge nessa época. Inicialmente utilizado para designar uma faixa etária de pobres,  pelo Código de Menores de 1927. Com o tempo, este termo passou a ter uma conotação negativa pela sociedade. Os “menores” eram crianças e adolescentes pobres que tinham uma estrutura familiar diferente da convencional, com mães como chefes de família, com estruturas econômicas e emocionais precárias, para o entendimento da época. Estas crianças eram entendidas por esta condição familiar como tendo possibilidade de tornarem-se “marginais”, e com isso seria um risco a si mesmas e á sociedade. Cabia ao Estado, atender estas crianças “abandonadas, pobres e desvalidas”, mas com uma concepção de assistencialismo, de “salvamento.”

As instituições criadas eram enormes e isolavam estas crianças do convívio social. As massificavam, concebendo todas como tendo o mesmo problema, além de vê-las de forma preconceituosa, já que todas eram um perigo. O código de menores, “acabou por construir uma categoria de crianças menos humanas, menos crianças do que as outras crianças, quase uma ameaça à sociedade” (Ana Maria Monte Coelho Frota)


Foi somente em 1959 que  foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos da Criança. O 1º Princípio dela é:
“Todas as crianças, absolutamente sem qualquer exceção, será credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família.”


No Brasil, após muita luta somente  em 13 de julho de 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente,  quando pela primeira vez a criança é considerada um sujeito de direito. Isso quer dizer que a criança e ao adolescente é necessário dar condições adequadas ao  seu desenvolvimento, com direitos específicos ligados á sua faixa etária, como: direitos como saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, cultura e convivência familiar e comunitária, dentre outros.

Minha intenção com este artigo e os outros anteriores (*****), é demonstrar como a infância é uma construção social, cultural e histórica, e que convivemos até hoje com vários  significados da infância e da criança: "Adultos em miniatura", “Seres inocentes que necessitam de cuidados e proteção”e “sujeito de direitos.
Esses significados conformam uma prática na atuação de educadores e profissionais dos mais diversos que atuam com crianças; assim como, a percepção da sociedade sobre a Infância; e o não entendimento sobre O ECA que continua mesmo após tatos anos.

Para os profissionais que atuam com crianças é importante que identifiquem em si, como as percebem, para que possam em sua lida com elas, cumprirem sua função de contribuírem para seu desenvolvimento.


Tania Jandira R. Ferreira

(*) Esse artigo faz parte de uma assessoria sobre o ECA, á Associação Projeto Roda Viva, realizada em 2013. A distinção em épocas da humanidade tem apenas o sentido de nos situar.
(**) citação do Livro: A história da criança e da família
(***) Estes eram os termos adotados na época.
(****) citação no artigo: Diferentes concepções da infância e adolescência: a importância da historicidade para sua construção.