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sexta-feira, março 28, 2014

A criança vista como um pequeno adulto


A infância é uma construção histórico, social e cultural.
Para tentarmos refletir sobre esta concepção procurei trazer alguns dados sobre como esta era concebida na Idade Antiga e na Idade Média.

Etimologicamente, infância é originária do latim infans que significa “aquele que não fala”.

Na Idade Antiga (4.000 A.C até 476 DC) a concepção de infância não existia; não havia uma distinção específica em relação a esta fase da vida. A concepção da Infância como uma fase específica do ser humano começou a ser esboçada na Idade Moderna.

Na Idade Média (476 D.C até 1453) a sociedade ainda não reconhecia a infância enquanto um período de vida específico. As crianças eram vistas como um pequeno adulto.

“Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda atividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, cultos e rituais. O cerimonial dessas celebrações não fazia muita questão em distinguir claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos”.(Áries)
“A primeira infância era época das aprendizagens(Áries)
“A passagem pela família era rápida e insignificante”. (Áries)

Nesta época, as crianças participavam de todos os assuntos da sociedade. Os modos de vestir, as conversas, os jogos, as brincadeiras e o trabalho realizado pelas crianças não as distinguiam do "mundo" dos adultos. As casas reuniam toda a família, que era extensa, formada muitas vezes por tios, tias, avós ou primos, todos vivendo sobre o mesmo teto. Não havia uma cultura social de que cabia aos pais dar carinho e dedicação a elas; como também a estes não sobrava tempo para se dedicar a elas.


A economia na Idade Média era baseada na agricultura, onde existiam os nobres e os seus servos. A infância destes dos extratos sociais era vivida de forma distinta.
Aquelas que pertenciam às famílias nobres aprendiam as artes de guerra ou os ofícios eclesiásticos. Além disso, com a regra de primogenitura, o filho mais velho teria direito de ser o único herdeiro após a morte do pai, excluindo dessa maneira os demais filhos, o que ocasionava conflitos que a história nos lembra.


Havia também uma preferência dos pais por ter filhos do sexo masculino ao invés do feminino. Não se via vantagem financeira em ter uma filha, mas sim, preocupações. Nos casamentos, por exemplo, a família do homem teria que dar um dote. A filha mulher deveria se submeter as decisões da família, para conseguir um bom dote que perpetuasse a riqueza da família. Lembramos aqui que os casamentos aconteciam bem cedo, mesmo com pessoas de 5 ou 7 anos.




Para os filhos dos servos isso era diferente. Nas famílias destes havia uma preocupação para a criança trabalhar nas lavouras ou serviços. Era comum se colocar crianças  a partir dos sete anos para viver com outra família para serem “educadas”. A inquietação para ensiná-las um ofício e a atenção dos pais nos seus trabalhos, na guerra ou pedindo esmolas se justificava por que eram os pais que dependiam dos filhos para o sustento da família e não o contrário. Quanto mais filhos mais braços se teria para o trabalho. Também devido à situação de fome, miséria e a falta de saneamento básico a taxa de mortalidade infantil era muito alta; com isso a morte de uma criança não era recebida com tanto desespero. Rapidamente  a tristeza passava, e aquela criança era substituída por outro recém-nascido para cumprir sua função já pré estabelecida.

Como podemos perceber algumas destas concepções sobre a infância continuam a persistir, no tempo histórico em que vivemos. As famílias já não são mais extensas, mas as questões relativas aos distintos papéis de gênero e distinções sociais ainda persistem no imaginário social, assim como alguns ainda as percebem como pequenos adultos.

Citando questões relativas a gênero, podemos notar que algumas propagandas veiculadas pela televisão  abordam as crianças, em especial as meninas, como mulheres em miniatura. Essas propagandas estruturam-se em torno da imagem de sensualização da infância, com o objetivo de produzirem consumidores de seus produtos. Isso desperta nas crianças o desejo de tornarem-se adolescentes e adultos precocemente.

Além disso, de acordo com dados divulgados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 93% das crianças e dos adolescentes envolvidos em trabalho doméstico no Brasil são meninas negras. Em números absolutos, são mais de 241 mil garotas executando tarefas domésticas na casa de terceiros.
Também ainda vamos encontrar famílias que oferecem suas filhas a homens abastados, em troca de benefícios financeiros.

Citando uma questão social vamos perceber que o trabalho infantil no Brasil ainda é um grande problema social. Hoje em dia, em torno de 4,8 milhões de crianças de adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no Brasil, segundo PNAD 2007. Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre 5 e 13 anos. Na maioria das vezes isto ocorre devido à necessidade de ajudar financeiramente a família. Muitas destas famílias são geralmente de pessoas pobres que possuem muitos filhos. Apesar de existir legislações que proíbam oficialmente este tipo de trabalho, é comum nas grandes cidades brasileiras a presença de menores em cruzamentos de vias de grande tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário.




Também podemos ver que com a introdução da Tv as crianças acabam em muitas famílias participando de assuntos da sociedade; como também adultos conversam sobre vários assuntos  na frente de crianças ou mesmo fazem com que estas convivam com questões do mundo dos adultos, sem que haja,um filtro ou orientação dos pais, sobre estas informações que lhes chegam.

Tania Jandira R. Ferreira
Obs: Esse artigo é parte de uma assessoria que dei aos educadores do Projeto Associação Roda Viva, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

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