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quarta-feira, agosto 26, 2015

CORAÇÕES ENJAULADOS



O ser humano se estrutura a partir de situações vividas, de como se relaciona com o mundo, com sua cultura e  com a sociedade em que vive.
A conseqüência da necessidade do indivíduo se adaptar ao seu meio sócio cultural é a restrição das expressões espontâneas; com isso há estagnação de emoções que são energias, que se concentram em pontos determinados do corpo, deixando outros sem energia suficiente, provocando alterações. Essas alterações tanto ocorrem pela falta de energia em determinada parte do corpo quanto pelo excesso de energia de forma bloqueada, sem movimento, sem fluidez também, em alguma parte do corpo.

Quando não se tem a possibilidade de ser autêntico, de agir com espontaneidade, isso se registra no corpo mediante tensões musculares.
Com a perda de nossa capacidade de expressar o que sentimos e pensamos, vamos perdendo nossa autenticidade, nossa espontaneidade.
É muito comum abrirmos mão de nossa expressão mais autêntica e assumirmos uma imagem que acabamos por aceitar como verdadeira.
Nem sempre podemos ou devemos expressar tudo que sentimos ou pensamos, mas essa é uma situação diferente daquela em que o indivíduo perde a capacidade de fazê-lo e de percebê-lo.
O maior fluxo de energia que gera níveis maiores de pulsação faz com que haja mais vida em nós, em nossas ações; permite maior envolvimento com as atividades que nos cabe realizar. É o equilíbrio entre expansão e contração que gera essa possibilidade.

O Corpo e  a  psique são faces do ser humano. O corpo expressa os afetos da psique e a psique expressa a fluidez ou a rigidez do corpo.
Corpo, emoções e linguagem se entrelaçam na ação e nas interações do ser humano. Atuar na psique do ser humano implica reverberações no seu corpo. Atuar no corpo implica reverberações na psique.

“Medo e raiva contidos endurecem o organismo, contrariamente ao amor e à alegria que o suavizam. Nossos sentimentos provocam uma mobilização em nosso corpo: Um sentimento não é uma idéia ou uma imaginação — é um acontecimento energético no corpo. Existe algo que flui dentro de nós. Quando estamos felizes, nos esticamos, nos expandimos para o mundo. Quando temos medo, nos retraímos para dentro de nós mesmos.Nesse movimento, o que flui de lá para cá é nossa energia vital.”  Eva Reich

Estar presente no mundo, se inserir em seu movimento,  sentir, se expressar, não se estagnando em determinados padrões ou ideias paralisantes é estar vivo. Corporalmente, isso se manifesta por meio da mobilidade, da respiração ritmada e profunda e do fluxo da energia corporal.
Neurobiologistas já comprovam  a  dependência existente entre a emoção e a razão. A ausência da emoção e dos sentimentos pode afetar a racionalidade.


Os músculos encarregados da respiração, também são encarregados do movimento dos braços, de ir buscar algo, de fazer contato com o meio, com outras pessoas, de expressar, de colher o que necessitamos, de modificar e interferir com o meio. 

O tórax é a sede dos sentimentos profundos. Nele se encontra órgãos importantes como o coração, os pulmões e o timo. É também onde se localizam emoções e sentimentos profundos, é também o manancial da expressão profunda destes sentimentos.
Contrações crônicas neste grupo muscular impedem uma respiração profunda e fluída, por que os processos emocionais não podem ser percebidos pela pessoa, nem ser expressos. A conseqüência é um estado emocional de um stand by contido ou de um coração enjaulado.
 
 três modos de escapar da jaula. Um tem a ver com a garganta e a boca. Um coração rígido e uma garganta contraída dificulta um trânsito emocional, assim os beijos podem ser frios ou falsos. 

Outro canal de expressão é através dos braços e mãos, é só perceber como há abraços que não confortam, mãos que se tocam, mas não acariciam de fato ou mãos que se unem , como amigos que se dão as mãos ou pessoas enamoradas. 
O terceiro canal tem a ver com os genitais, aí é só perceber como mesmo tendo prazer sexual, muitos sempre se acham insatisfeitos e não demonstram ternura em suas relações.


Um tórax rígido dificulta qualquer expressão de amor em relação a outra pessoa, e não só sua expressão, mas também sua tomada de consciência. São feridas profundas de desamor que causam essa rigidez.
Nem sempre pudemos ser amados por quem queríamos, nem sempre podemos ser aceitos em nossa espontaneidade, mas essas feridas podem se tornar cicatrizes se nos abrirmos a possibilidade da existência do amor. 
Amor que podemos reaprender a ter por nós mesmos, em primeiro lugar. Afinal, se o outro não teve a possibilidade de nos amar é ele também que perdeu essa possibilidade de vivenciar o amor em sua plenitude.


Tania Jandira R. Ferreira
Psicoterapeuta
Tel: 981238174