A infância é uma construção histórico, social e cultural.
Para tentarmos refletir sobre esta concepção procurei trazer alguns dados sobre como esta era concebida na Idade Antiga e na Idade Média.
Para tentarmos refletir sobre esta concepção procurei trazer alguns dados sobre como esta era concebida na Idade Antiga e na Idade Média.
Etimologicamente,
infância é originária do latim infans que significa “aquele que não fala”.
Na Idade Antiga (4.000 A.C até 476 DC) a
concepção de infância não existia; não havia uma distinção específica em
relação a esta fase da vida. A concepção da Infância como uma fase específica
do ser humano começou a ser esboçada na Idade Moderna.
Na Idade
Média (476 D.C até 1453) a sociedade ainda não reconhecia a infância enquanto um
período de vida específico. As crianças eram vistas como um pequeno adulto.
“Adultos, jovens e crianças se
misturavam em toda atividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício
das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, cultos e
rituais. O cerimonial dessas celebrações não fazia muita questão em distinguir
claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos”.(Áries)
“A primeira infância era época das aprendizagens” (Áries)
“A passagem pela família era rápida e insignificante”. (Áries)
Nesta época, as crianças participavam de todos os
assuntos da sociedade. Os modos de vestir, as conversas, os jogos, as
brincadeiras e o trabalho realizado pelas crianças não as distinguiam do
"mundo" dos adultos. As casas reuniam toda a família, que
era extensa, formada muitas vezes por tios, tias, avós ou primos, todos vivendo
sobre o mesmo teto. Não havia uma cultura social de que cabia aos pais dar
carinho e dedicação a elas; como também a estes não sobrava tempo para se
dedicar a elas.
A
economia na Idade Média era baseada na agricultura, onde existiam
os nobres e os seus servos. A infância destes dos extratos sociais era vivida
de forma distinta.
Aquelas que pertenciam às famílias nobres aprendiam
as artes de guerra ou os ofícios eclesiásticos. Além disso, com a regra de
primogenitura, o filho mais velho teria direito de ser o único herdeiro após a
morte do pai, excluindo dessa maneira os demais filhos, o que ocasionava
conflitos que a história nos lembra.
Havia também uma preferência dos pais por ter
filhos do sexo masculino ao invés do feminino. Não se via vantagem financeira
em ter uma filha, mas sim, preocupações. Nos casamentos, por exemplo, a família
do homem teria que dar um dote. A filha mulher deveria se submeter as decisões
da família, para conseguir um bom dote que perpetuasse a riqueza da família.
Lembramos aqui que os casamentos aconteciam bem cedo, mesmo com pessoas de 5 ou
7 anos.
Para
os filhos dos servos isso era diferente. Nas famílias destes havia uma
preocupação para a criança trabalhar nas lavouras ou serviços. Era comum se
colocar crianças a partir dos sete anos
para viver com outra família para serem “educadas”. A inquietação para
ensiná-las um ofício e a atenção dos pais nos seus trabalhos, na guerra ou
pedindo esmolas se justificava por que eram os pais que dependiam dos filhos
para o sustento da família e não o contrário. Quanto mais filhos mais braços se
teria para o trabalho. Também devido à situação de fome, miséria e a falta de
saneamento básico a taxa de mortalidade infantil era muito alta; com isso a
morte de uma criança não era recebida com tanto desespero. Rapidamente a tristeza passava, e aquela criança era
substituída por outro recém-nascido para cumprir sua função já
pré estabelecida.
Como
podemos perceber algumas destas concepções sobre a infância continuam a
persistir, no tempo histórico em que vivemos. As famílias já não são mais
extensas, mas as questões relativas aos distintos papéis de gênero e distinções
sociais ainda persistem no imaginário social, assim como alguns ainda as
percebem como pequenos adultos.
Citando questões
relativas a gênero, podemos notar que algumas propagandas veiculadas pela
televisão abordam as crianças, em
especial as meninas, como mulheres em miniatura. Essas propagandas
estruturam-se em torno da imagem de sensualização da infância, com o objetivo
de produzirem consumidores de seus produtos. Isso desperta nas crianças o
desejo de tornarem-se adolescentes e adultos precocemente.
Além disso, de acordo com dados divulgados da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), mais de 93% das crianças e dos adolescentes
envolvidos em trabalho doméstico no Brasil são meninas negras. Em números
absolutos, são mais de 241 mil garotas executando tarefas domésticas na casa de
terceiros.
Também ainda vamos encontrar famílias que oferecem
suas filhas a homens abastados, em troca de benefícios financeiros.
Citando uma questão social vamos perceber
que o trabalho infantil no Brasil ainda é um grande problema social. Hoje em
dia, em torno de 4,8 milhões de crianças de adolescentes entre 5 e 17 anos
estão trabalhando no Brasil, segundo PNAD 2007. Desse total, 1,2 milhão estão
na faixa entre 5 e 13 anos. Na maioria das vezes isto ocorre devido à
necessidade de ajudar financeiramente a família. Muitas destas famílias são
geralmente de pessoas pobres que possuem muitos filhos. Apesar de existir
legislações que proíbam oficialmente este tipo de trabalho, é comum nas grandes
cidades brasileiras a presença de menores em cruzamentos de vias de grande
tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário.
Também podemos ver que com a introdução da Tv as
crianças acabam em muitas famílias participando de assuntos da sociedade; como
também adultos conversam sobre vários assuntos na frente de crianças ou mesmo fazem com que
estas convivam com questões do mundo dos adultos, sem que haja,um filtro ou
orientação dos pais, sobre estas informações que lhes chegam.
Tania
Jandira R. Ferreira
Obs: Esse
artigo é parte de uma assessoria que dei aos educadores do Projeto Associação
Roda Viva, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.