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segunda-feira, janeiro 27, 2014

O CORPO COMO EXPRESSÃO DO PSIQUISMO



A  linguagem corporal é a mais primitiva forma de comunicação entre os animais; assim como o é entre humanos. Ela é o meio mais profundo de comunicação.
Esse é um dos legados de Wilhelm Reich.
Suas observações e experiências terapêuticas, mudaram inclusive uma parte do setting terapêutico.
Até então o psicoterapeuta  limitava-se a ouvir relatos do paciente deitado no divã e fora do seu campo visual. Limitava-se a  ouvir e  tentar correlacionar o que ouvia com o momento e com a história da pessoa.
Reich começou a olhar para o paciente, a ver, a devolver e a interpretar a comunicação não verbal.
A maior parte das pessoas não consegue perceber seus gestos, atitudes corporais, suas expressões faciais nos momentos de comunicação e relação com o outro. Elas não sabem ou reconhecem o que exprimem ou manifestam corporal e facialmente. Com isso vão se encouraçando, vão fazendo um esforço muscular a fim de não mostrar os sentimentos e emoções que sentem.
As pessoas aprendem que é possível esconder ou disfarçar emoções e sentimentos, o que não é verdade. Elas se expressam no corpo.
É só nos lembramos de situações ameaçadoras e quando nos sentimos em perigo. As atitudes são de medo, cautela. A expressão corporal é de “ encolhimento”. Diferente de quando percebemos alguém como acolhedor. Não há atitudes de prevenção, nos desarmamos, nossa expressão é de “ entrega”, confiança.
As relações se fazem assim. As atitudes e gestos que temos estão correlacionadas com o que apreendemos das atitudes e gestos do outro com que nos relacionamos, a ela respondemos com nossa expressão corporal; assim como o outro a nós responde.
Existe uma “dança” entre pessoas que acontece simultaneamente, que pode ensejar relacionamentos empáticos ou não.
Usando o mesmo exemplo anterior, uma pessoa que sofreu relacionamentos ameaçadores pode mostrar-se sempre cauteloso ou medroso nas relações, mesmo quando em novas relações não ameaçadoras. A pessoa se encouraça. Espera de suas relações uma “ pedrada”, mesmo quando se lhe oferece uma flor; por isso, o modelo de psicologia que surge com Reich compreende que é necessário atuar também no corpo, nas couraças musculares que vão se fazendo ao longo da vida.
Essas atuações na psicoterapia se fazem através de massagens e exercícios, além das devoluções sobre as expressões do corpo estabelecidas durante a relação.
O psicoterapeuta não é neutro, não se mostra  inacessível ou distante, ele é parte do processo da relação que se estabelece, reage as expressões não verbais do cliente, interage com ela, mostra seu psiquismo através de suas expressões corporais e com isso também permite e possibilita que o cliente possa reestabelecer relações humanas de uma forma mais saudável.
As “ pedradas” recebidas de alguns, podemos responder com outras pedradas, nos defendendo delas ainda que próximos ou nos afastarmos tanto que estas não conseguiam nos atingir; assim como podemos acolher a flor que alguns nos oferecem.
Resgatar o “ olhar” é um dos legados de Reich.
Negar o olhar é negar o que se vê nas manifestações que acompanham as palavras. As minhas, as suas, as nossas.
Esse é um aprendizado no processo terapêutico.
Nosso corpo, nossas expressões corporais revelam nosso íntimo, nosso psiquismo.
Todos nos mostramos, além das palavras sem perceber, somos transparentes e não nos damos conta disso.
Desfazendo nossas couraças musculares podemos estabelecer relações mais saudáveis.
As formas como percebemos e estabelecemos nossas relações, ficaram marcadas em nosso corpo, em nossas expressões corporais, são expressões de nosso psiquismo e ensejam histórias que se repetem com diferentes personagens ao longo da vida.
Podemos transformar nosso corpo, desfazer nossas couraças, mudar nosso psiquismo e com isso mudar nossa história e nossas relações.
Este é um processo que a psicoterapia proporciona, nos tornarmos mais potentes e saudáveis, reaprender a “olhar”, reaprender  a nos “ver”.
Tania Jandira R. Ferreira/janeiro 2014