A linguagem corporal é a mais primitiva forma
de comunicação entre os animais; assim como o é entre humanos. Ela é o meio
mais profundo de comunicação.
Esse é um dos legados de
Wilhelm Reich.
Suas observações e
experiências terapêuticas, mudaram inclusive uma parte do setting terapêutico.
Até então o
psicoterapeuta limitava-se a ouvir
relatos do paciente deitado no divã e fora do seu campo visual. Limitava-se a ouvir e tentar correlacionar o que ouvia com o momento
e com a história da pessoa.
Reich começou a olhar para o paciente, a ver, a
devolver e a interpretar a comunicação não verbal.
A maior parte das pessoas
não consegue perceber seus gestos, atitudes corporais, suas expressões faciais
nos momentos de comunicação e relação com o outro. Elas não sabem ou reconhecem
o que exprimem ou manifestam corporal e facialmente. Com isso vão se
encouraçando, vão fazendo um esforço muscular a fim de não mostrar os
sentimentos e emoções que sentem.
As pessoas aprendem que é
possível esconder ou disfarçar emoções e sentimentos, o que não é verdade. Elas
se expressam no corpo.
É só nos lembramos de
situações ameaçadoras e quando nos sentimos em perigo. As atitudes são de medo,
cautela. A expressão corporal é de “ encolhimento”. Diferente de quando
percebemos alguém como acolhedor. Não há atitudes de prevenção, nos desarmamos,
nossa expressão é de “ entrega”, confiança.
As relações se fazem assim.
As atitudes e gestos que temos estão correlacionadas com o que apreendemos das
atitudes e gestos do outro com que nos relacionamos, a ela respondemos com
nossa expressão corporal; assim como o outro a nós responde.
Existe uma “dança” entre
pessoas que acontece simultaneamente, que pode ensejar relacionamentos empáticos
ou não.
Usando o mesmo exemplo
anterior, uma pessoa que sofreu relacionamentos ameaçadores pode mostrar-se
sempre cauteloso ou medroso nas relações, mesmo quando em novas relações não
ameaçadoras. A pessoa se encouraça. Espera de suas relações uma “ pedrada”,
mesmo quando se lhe oferece uma flor; por isso, o modelo de psicologia que
surge com Reich compreende que é necessário atuar também no corpo, nas couraças
musculares que vão se fazendo ao longo da vida.
Essas atuações na
psicoterapia se fazem através de massagens e exercícios, além das devoluções
sobre as expressões do corpo estabelecidas durante a relação.
O psicoterapeuta não é
neutro, não se mostra inacessível ou
distante, ele é parte do processo da relação que se estabelece, reage as
expressões não verbais do cliente, interage com ela, mostra seu psiquismo
através de suas expressões corporais e com isso também permite e possibilita
que o cliente possa reestabelecer relações humanas de uma forma mais saudável.
As “ pedradas” recebidas
de alguns, podemos responder com outras pedradas, nos defendendo delas ainda
que próximos ou nos afastarmos tanto que estas não conseguiam nos atingir;
assim como podemos acolher a flor que alguns nos oferecem.
Resgatar o “ olhar” é um
dos legados de Reich.
Negar o olhar é negar o
que se vê nas manifestações que acompanham as palavras. As minhas, as suas, as
nossas.
Esse é um aprendizado no
processo terapêutico.
Nosso corpo, nossas
expressões corporais revelam nosso íntimo, nosso psiquismo.
Todos nos mostramos, além
das palavras sem perceber, somos transparentes e não nos damos conta disso.
Desfazendo nossas couraças
musculares podemos estabelecer relações mais saudáveis.
As formas como percebemos
e estabelecemos nossas relações, ficaram marcadas em nosso corpo, em nossas
expressões corporais, são expressões de nosso psiquismo e ensejam histórias que
se repetem com diferentes personagens ao longo da vida.
Podemos transformar nosso
corpo, desfazer nossas couraças, mudar nosso psiquismo e com isso mudar nossa
história e nossas relações.
Este é um processo que a
psicoterapia proporciona, nos tornarmos mais potentes e saudáveis, reaprender a
“olhar”, reaprender a nos “ver”.
Tania Jandira R. Ferreira/janeiro 2014