Translate

sábado, março 29, 2014

A “fraqueza” do macho é não resistir a atração. Essa é a prova de sua virilidade.

O Estudo do IPEA divulgado que vem causando debates por conta das respostas a uma pesquisa nos remete a ideia de que as mulheres sempre seduzem e por isso são vadias e merecedoras de estupro.  
É a forma que a mulher se conduz que a coloca na condição de potencial vítima para estes.
O que se reafirma nessa ideia é que se uma mulher expõe seu corpo está autorizando os homens a violá-la e que um homem tem uma libido incontrolável, uma prontidão permanente que é prova de sua virilidade. O homem tem essa “fraqueza”, não se segura, não resiste, é ”tentado”. E aí mostra o quanto é macho, pois não resiste a atração do sexo oposto.
Ideias que persistem que naturalizam a libido do homem como incontrolável e a libido da mulher sempre sujeita a censuras e  punições.
Infelizmente ainda mulheres pensam também assim, introjetaram a ideia do opressor que tentam regular seus corpos e desqualificam outras mulheres como aquelas que “tentam”.
Estupro é violência a uma condição humana, se nós mulheres ainda somos as maiores vítimas é por que fomos educadas a  consentir essa violência, apenas por sermos mulheres e entender que macho que é macho, não resiste a eterna pecadora que o seduz.
Esses são os dados da pesquisa:

 no link:
http://oglobo.globo.com/pais/para-65-mulher-com-roupa-que-mostra-corpo-merece-ser-atacada-12006214

sexta-feira, março 28, 2014

A criança vista como um pequeno adulto


A infância é uma construção histórico, social e cultural.
Para tentarmos refletir sobre esta concepção procurei trazer alguns dados sobre como esta era concebida na Idade Antiga e na Idade Média.

Etimologicamente, infância é originária do latim infans que significa “aquele que não fala”.

Na Idade Antiga (4.000 A.C até 476 DC) a concepção de infância não existia; não havia uma distinção específica em relação a esta fase da vida. A concepção da Infância como uma fase específica do ser humano começou a ser esboçada na Idade Moderna.

Na Idade Média (476 D.C até 1453) a sociedade ainda não reconhecia a infância enquanto um período de vida específico. As crianças eram vistas como um pequeno adulto.

“Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda atividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, cultos e rituais. O cerimonial dessas celebrações não fazia muita questão em distinguir claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos”.(Áries)
“A primeira infância era época das aprendizagens(Áries)
“A passagem pela família era rápida e insignificante”. (Áries)

Nesta época, as crianças participavam de todos os assuntos da sociedade. Os modos de vestir, as conversas, os jogos, as brincadeiras e o trabalho realizado pelas crianças não as distinguiam do "mundo" dos adultos. As casas reuniam toda a família, que era extensa, formada muitas vezes por tios, tias, avós ou primos, todos vivendo sobre o mesmo teto. Não havia uma cultura social de que cabia aos pais dar carinho e dedicação a elas; como também a estes não sobrava tempo para se dedicar a elas.


A economia na Idade Média era baseada na agricultura, onde existiam os nobres e os seus servos. A infância destes dos extratos sociais era vivida de forma distinta.
Aquelas que pertenciam às famílias nobres aprendiam as artes de guerra ou os ofícios eclesiásticos. Além disso, com a regra de primogenitura, o filho mais velho teria direito de ser o único herdeiro após a morte do pai, excluindo dessa maneira os demais filhos, o que ocasionava conflitos que a história nos lembra.


Havia também uma preferência dos pais por ter filhos do sexo masculino ao invés do feminino. Não se via vantagem financeira em ter uma filha, mas sim, preocupações. Nos casamentos, por exemplo, a família do homem teria que dar um dote. A filha mulher deveria se submeter as decisões da família, para conseguir um bom dote que perpetuasse a riqueza da família. Lembramos aqui que os casamentos aconteciam bem cedo, mesmo com pessoas de 5 ou 7 anos.




Para os filhos dos servos isso era diferente. Nas famílias destes havia uma preocupação para a criança trabalhar nas lavouras ou serviços. Era comum se colocar crianças  a partir dos sete anos para viver com outra família para serem “educadas”. A inquietação para ensiná-las um ofício e a atenção dos pais nos seus trabalhos, na guerra ou pedindo esmolas se justificava por que eram os pais que dependiam dos filhos para o sustento da família e não o contrário. Quanto mais filhos mais braços se teria para o trabalho. Também devido à situação de fome, miséria e a falta de saneamento básico a taxa de mortalidade infantil era muito alta; com isso a morte de uma criança não era recebida com tanto desespero. Rapidamente  a tristeza passava, e aquela criança era substituída por outro recém-nascido para cumprir sua função já pré estabelecida.

Como podemos perceber algumas destas concepções sobre a infância continuam a persistir, no tempo histórico em que vivemos. As famílias já não são mais extensas, mas as questões relativas aos distintos papéis de gênero e distinções sociais ainda persistem no imaginário social, assim como alguns ainda as percebem como pequenos adultos.

Citando questões relativas a gênero, podemos notar que algumas propagandas veiculadas pela televisão  abordam as crianças, em especial as meninas, como mulheres em miniatura. Essas propagandas estruturam-se em torno da imagem de sensualização da infância, com o objetivo de produzirem consumidores de seus produtos. Isso desperta nas crianças o desejo de tornarem-se adolescentes e adultos precocemente.

Além disso, de acordo com dados divulgados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 93% das crianças e dos adolescentes envolvidos em trabalho doméstico no Brasil são meninas negras. Em números absolutos, são mais de 241 mil garotas executando tarefas domésticas na casa de terceiros.
Também ainda vamos encontrar famílias que oferecem suas filhas a homens abastados, em troca de benefícios financeiros.

Citando uma questão social vamos perceber que o trabalho infantil no Brasil ainda é um grande problema social. Hoje em dia, em torno de 4,8 milhões de crianças de adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no Brasil, segundo PNAD 2007. Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre 5 e 13 anos. Na maioria das vezes isto ocorre devido à necessidade de ajudar financeiramente a família. Muitas destas famílias são geralmente de pessoas pobres que possuem muitos filhos. Apesar de existir legislações que proíbam oficialmente este tipo de trabalho, é comum nas grandes cidades brasileiras a presença de menores em cruzamentos de vias de grande tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário.




Também podemos ver que com a introdução da Tv as crianças acabam em muitas famílias participando de assuntos da sociedade; como também adultos conversam sobre vários assuntos  na frente de crianças ou mesmo fazem com que estas convivam com questões do mundo dos adultos, sem que haja,um filtro ou orientação dos pais, sobre estas informações que lhes chegam.

Tania Jandira R. Ferreira
Obs: Esse artigo é parte de uma assessoria que dei aos educadores do Projeto Associação Roda Viva, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

quinta-feira, março 20, 2014

Rir é o melhor remédio?


Esta é uma das frases da sabedoria popular, mas também um instrumento terapêutico.
A sociedade prega ideais de felicidade que podem levar a frustrações. Não podemos nos resignar a uma vida insatisfatória, mesmo sendo reconhecida socialmente e aceita. Vidas insatisfatórias aumentam os níveis de frustração, angústia, fobias e depressão.
O bom  humor faz com que não nos deixemos abater perante o infortúnio e não nos levarmos tão a sério; é acharmos graça das incertezas da vida, é exercitar descrer em todas as verdades difundidas socialmente, libertando-se dos ideais dominantes.
O humor é uma forma dos adultos brincarem e não se tornarem amargos perante a vida. Quando a pessoa consegue se distanciar dos dramas da vida, consegue enxergar as razões de seu sofrimento por novos pontos de vista, e até mesmo rir deles.



No processo terapêutico quando isso acontece é uma demonstração que a pessoa está caminhando para se libertar dos seus condicionamentos e olhar seus sofrimentos sob um outro ponto de vista. É muito gratificante compartilhar esses momentos e podermos rir juntos, de piadas que as próprias pessoas fazem de si e de seus problemas.
O humor é nato,  tem sua fonte na atividade lúdica da criança. As crianças, pelo riso, manifestam um estado de ânimo que indica que elas estão se divertindo. O riso convida para brincar. Para Lacan “antes mesmo da fala, a primeira comunicação verdadeira, a comunicação para além daquilo que vocês são diante dela como presença simbolizada, é o riso. Antes de qualquer palavra, a criança ri.”


No adulto o humor é fruto de sua imaginação criadora. Para adquirir humor é preciso desenvolver a ludicidade, uma faculdade necessária para uma vida satisfatória e expansiva.
O humor e o riso se expressam no corpo. Não apenas no rosto.
Você já reparou que quando rimos de fato todo nosso corpo vibra? A barriga também???
Existe um músculo chamado diafragma que quando endurecido, rígido dificulta não só a respiração, mas a expansão das correntes vivas de emoção no organismo; não permitindo que a potência da vida que é genital, flua até o peito e nos torne felizes.

O humor seduz. Ele rompe barreiras que separam nossos interesses egoístas dos interesses dos outros, provoca intimidade e comunhão. Rir junto com alguém é um exercício de intimidade, que favorece amizades e até aproximação sexual. O sorriso auxilia nas relações sociais, “quebra o gelo“. O humor é um instrumento de grande valia nas comunicações entre pessoas pois desperta o interesse do ouvinte.
Uma pessoa que foi privada da capacidade de brincar e sujeita a violências, pode ter seu senso de humor comprometido. Pode se tornar uma pessoa cronicamente afetada. Isso se expressa em uma polidez exagerada, uma seriedade formal, uma tristeza indefinida ou numa revolta verbal.
Hoje se fala muito da  “distimia ou mau humor crônico”, que é um  transtorno recentemente formulado pela psiquiatria americana, equivalente a uma forma branda de depressão. O sujeito cronicamente mal-humorado revela uma enorme insatisfação com seu estilo de vida, responsabilizando, no entanto, o outro por seu sofrimento. 


O humor é uma atividade mental. Toda atividade mental tem seu correspondente neuroquímico, mas não podemos compreender que a falta de humor seja apenas uma disfunção neuroquímica. Ela é um sintoma do dinamismo da psiquê.

William James entendia que “Nós não sorrimos por eu somos felizes; nós somos felizes por que sorrimos” . Ainda James no ensina que uma emoção contagia. Ela pode tanto nos contagiar, quanto contagiar o outro. O riso reforça a importância da emoção.

Ainda hoje, lembro depois de tantos anos, quando um cliente cronicamente deprimido, deu boas risadas comigo e disse uma frase um tanto triste. “Só com você consigo rir”.

O processo psicoterapêutico é carregado de muitos momentos de tristeza, mas podemos resgatar o bom humor das pessoas, ajudar a relembrar de momentos de alegria, aumentar a resiliência e a força para lidar com os sofrimentos. Não se trata de negar as feridas da vida, mas de sobreviver a elas.
Podemos também diferenciar o humor da ironia, do deboche e  do riso cínico. Com a ironia e o deboche rimos do outro por acreditar que somos superiores. É um senso de superioridade que o rege. O cinismo é um riso amargo, melancólico, de quem, decepcionado, perdeu o gosto pela vida.
Para Freud o humor é essencial, uma mostra de um psiquismo sadio. Um mecanismo de libertação ou superação individual a um coletivo repressor. Freud afirmava que também podemos rir do que é superior a nós ou do que possui poder sobe nós. “O humor não é resignado, mas rebelde”. Para ele quem consegue fazer piadas sobre a própria sorte estaria acima de seu destino. Freud quando soube que seus livros estavam incluídos nas queimas das praças públicas de cidades alemãs, disse: “Que progressos estamos fazendo! Na Idade Média teriam queimado a mim. Hoje, se contentam em queimar meus livros”.
O riso é um sinal de saúde mental, poder rir sozinho, poder rir de si mesmo, poder rir junto com outros. A alegria é algo que contagia e pode ser compartilhada. Ela se extravasa no sorriso. O humor tem potência.

Tania Jandira R. Ferreira
19/03/2014

domingo, março 16, 2014

Não me delete por favor

Trago um artigo pequeno que gostei muito de Luciana Chardelli, para deguste de todos. Ela parte das concepções de Bauman, um sociólogo polonês que amo e está sempre presente por aqui. A edição de fotos no artigo é minha, o resto fica por conta da Luciana.



 “Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.”
Zygmunt Bauman
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.


O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo. Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida.




Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.
O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angustia. Filosoficamente a angustia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.

artigo in:

segunda-feira, março 10, 2014

SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO


Tesão é uma palavra portuguesa que não tem significado em outras línguas.
Tesão é palavra que teve seu significado mudado com o tempo.
Tesão não significa mais algo que tenha a ver apenas com excitação sexual ou genital.
Para Roberto Freire, autor do livro “sem tesão não há solução”, tesão tem a ver com interesse, com o que representa e produz em cada um seu desejo e prazer. Algo que é intenso, que é importante para cada um, que dá sensação real de estar vivo. Algo que dá alegria, que é lúdico, a raiz das paixões.
Cada pessoa é única e pode ter inúmeras paixões e tesões, algo que traz movimento, que relaxa, que embriaga, que impulsiona, que traz potência.

A vida é pulsação. O ser vivo expressa sua existência através de contrações e expansões alternadas.
O que traz prazer expande.
O que traz dor ou ausência de prazer contrai.
A contração é um indicativo do que não dá sentido, nem direção, nem significado, nem possibilidade à vida.
É através do prazer e da dor que o ser humano, como qualquer ser vivo, orienta e expande seu potencial energético.

Tanto Reich, como Freire entendem que todo poder autoritário se opõe a vida.
Poderes autoritários se propõem serem absolutos. Não admitem serem contestados. Isso corresponde sempre a uma impossibilidade de se viver os prazeres relativos da existência cotidiana.
Para Freire uma sociedade autoritária, produz um tipo de membro, onde “a forma de prazer que ainda sobraria nessas pessoas seria o de natureza sadomasoquista e paranóica: necessidade da dor alheia ou própria para se alcançar o prazer, necessidade essa comandada pelo fato de se sentirem pessoas superiores, especiais, e que por isso devem estar em constante estado de defesa e ataque contra inimigos, usando para isso o máximo requinte de crueldade e extrema violência.” (*)

Estes poderes autoritários vão se encontrar em toda parte, nas relações familiares, nas relações de gênero, nas relações étnicas, no Estado, na política, nas relações amorosas.

Freire, cita que nas relações de afeto esse comportamento sadomasoquista se expressa quando se usa o amor na forma de poder, quando se usa a sedução, a dominação, a repressão, a castração do outro, com ameaças de retirada da vida do outro, com a própria retirada e com a perversão do nosso amor.
O outro que sofre essa manipulação necessita supor que o parceiro é o melhor, o maior e único amor da vida dele. Para isso a sedução se torna um instrumento de poder.

Se refletirmos sobre as outras relações citadas anteriormente onde o poder autoritário se expressa, não fica difícil se pensar nas armas de sedução que são encontradas através dos tempos e como a sedução que é uma expressão do amor, também vem sendo pervertida.

O remédio, o tratamento preconizado consiste em nos deixarmos de novo contagiar pela alegria, pelo tesão da vida cotidiana, que são energias, sensações, emoções que nos tornam mais potentes, que compartilhamos com outros, que repartimos; o oposto a poderes absolutos.

Mesmo em uma sociedade doente e autoritária, a essência do humano é querer viver, se desenvolver, desenvolver o seu potencial de vida. Não apenas estar vivo, mas querer a vida, criar, sentir algo que o torna humano – o amor, que é algo que faz e justifica a vida.

A alegria, o tesão e o amor são sensações e emoções de natureza individual, que outros podem despertar e potencializar em nós.

A função da psicoterapia é despertar, libertar e desenvolver esses potenciais a partir do encontro psicoterapêutico. Possibilitar descobrir nossos inúmeros tesões e de que “sem tesão não há solução”.

Pessoas potentes amam toda expressão de vida e não se deixam seduzir por qualquer proposta de poder autoritário onde quer que se apresentem, pois estes são a antítese da vida.

Transformando-nos, vamos contagiando outros e assim podemos transformar a sociedade em que estamos imersos.
A vida pulsa em nós.

Tania Jandira R. Ferreira
17/02/2014

(*) Roberto Freire foi psiquiatra,psicoterapeuta, diretor de cinema e teatro. Criador da “somaterapia”, terapia corporal baseada nas teorias de Wilhelm Reich. O título desse artigo leva o nome de um de seus livros mais famosos. É também desse livro o trecho no artigo.

sábado, março 08, 2014

NÃO SE NASCE MULHER, TORNA-SE



Muitos não entendem essa frase, por que apenas concebem a mulher como uma condição biológica. A condição biológica é um fato, mas ser mulher é mais que isso, é uma construção histórico, social e cultural.

A concepção do que é "ser mulher" vem moldando a sociedade e as mulheres através dos tempos.
"Costela do homem", "ser pecaminoso", "ser angelical com a maternidade", tantos atributos se dá as mulheres, como se todas fossem iguais em todos os tempos, em todas as culturas.

O que acredito é que nos "tornamos mulheres", mesmo nascendo biologicamente mulheres. E a mulher que nos tornamos tem a ver com os valores que temos, valores que rejeitamos, valores que cultivamos, valores do tempo histórico que vivemos.

Hoje dia Internacional da Mulher, podemos festejar esse ser?

Muitos dizem que não, por que ainda há muito a se conquistar e a mulher ainda não é compreendida e respeitada.
Eu festejo, por que esse dia foi marcado por uma luta de mulheres guerreiras que em 1857, mostraram que não eram submissas e queriam igualdade de condições de trabalho como operárias. 

A concepção do que é ser mulher, depende de cada uma de nós, não apenas do " olhar do outro " sobre nós. 

Que mulher é você? Que mulher você se tornou? 


 

Gosto muito de uma música da Rita Lee sobre isso. Trago ela para nós na voz da Maria Rita.

Feliz dia da Mulher!
Tania Jandira R. Ferreira/ março 2014



quarta-feira, março 05, 2014

Uma breve reflexão sobre o papel político da Psicologia





O artigo que trago não é meu é de  Jarid Arraes, mas traz reflexões que julgo importante sobre o exercício do psicólogo.  A chamada dela é para os estudantes de psicologia, mas eu entendo que é a todos nós, psicólogos e pessoas que estão na vida e muitas vezes não conseguem compreender que o " pessoal é político".
O artigo é curtinho. Espero que gostem. Link de onde o descobri abaixo.


"A Psicologia tem conseguido se construir de forma plural ao longo dos anos, desde de seu reconhecimento oficial como área independente do conhecimento. Para quem é leigo, a ciência pode até parecer homogênea, mas a Psicologia é um campo diverso que conta com muitas abordagens e segmentos, cada um trazendo óticas específicas e complexas a respeito da vivência humana. Desse modo, ser psicólogo é também uma afirmação constante da visão pessoal que cada profissional tem a respeito do ser humano e da sociedade.

O que muitos estudantes e profissionais da Psicologia têm dificuldade de compreender é que a área, assim como sua prática individual, é também um campo político. É impossível viver em sociedade sem que haja a interação do indivíduo com a cultura, tanto enquanto sujeito que a reproduz quanto enquanto agente de transformação. Desse modo, ser psicólogo não é estar limitado e reduzido a um campo clínico que apenas enxerga o individual como desligado de representações e fatos sociais, pelo contrário, é compreender que até mesmo na prática clínica – que se dá dentro de uma sala, em completa privacidade – as forças sociais que atuam sobre as pessoas continuam vigentes. É impossível falar de sofrimento sem contextualizá-lo, por isso é relevante compreender que politicamente a clínica não é uma ilha.

Quando um cliente chega a uma clínica de Psicologia e abre sua vida para o psicólogo que o escuta, ele não está apenas falando sobre sua experiência individual, ele está exemplificando – em sua vivência – a maneira como a cultura age sobre os sentimentos e subjetivações de todos. A sociedade tem se inquietado diante do status quo; é cada vez maior o número de pessoas que desenvolve uma consciência crítica e não se conforma com os modelos hegemônicos de nosso país. Por isso, é perfeitamente natural perceber que hoje em dia as pessoas reagem muito mais a demonstrações de discriminação, preconceito ou piadas de mau gosto. Isso – de acordo com os conceitos da Psicologia Comunitária – faz parte de uma sociedade que está se movimentando para a transformação.

O papel do psicólogo, independente de sua abordagem ou área de atuação, é ser capaz de acompanhar, compreender e se colocar no meio de todos esses fenômenos. O compromisso ético do profissional de Psicologia deve sempre suspender seus a prioris, priorizar o bem estar das pessoas e criticar declarações ou ações que venham a ser moral e politicamente excludentes. Esse pressuposto está na própria declaração ética da categoria. Por isso é tão problemático perceber que muitos estudantes e profissionais da Psicologia não conseguem se politizar e passar a enxergar cada vivência de cada ser humano como parte inseparável do grande cenário cultural. Por exemplo: o psicólogo deve identificar que se alguém é negro e xingado de “macaco”, esse xingamento não está unicamente num campo pessoal e exclusivo desse indivíduo, esse insulto é parte de uma cultura de racismo que afeta milhares de pessoas. Não politizar o “pessoal” é ignorar quadros graves de exclusão social, que causam grande sofrimento psíquico.

Muitos movimentos sociais afirmam, há muitas décadas, que “o pessoal é político”. Aquilo que é vivido no campo individual contribui para a manutenção ou quebra de paradigmas, para a melhora ou piora da sociedade, assim como pode deixar mais agudas as nuances de sofrimento de muitos. A Luta Antimanicomial é um exemplo do quanto a Psicologia pode e deve ser política, pois consegue identificar um sistema ideológico de exclusão que afeta grupos sociais inteiros, não somente indivíduos isolados.

Essa reflexão, afinal, tem o objetivo de ser acessível para todos os públicos e chamar a atenção dos graduandos de Psicologia, que devem efetivar seus discursos, ir além da demagogia. Psicólogos e psicólogas, quer estejam em salas fechadas ou comunidades ao ar livre, devem praticar o esforço contínuo pela promoção da igualdade, repudiando a misoginia, a homofobia, a transfobia, o racismo e todas as muitas formas de agressão e exclusão."

Por Jarid Arraes