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segunda-feira, novembro 04, 2013

CUIDADOR, CUIDE-SE...


Cuidadores existiram desde o início da humanidade.
São os membros dos clãs que de uma forma ou outra praticam a “arte do cuidado”.
Podem ser membros da família que tomam para si os cuidados com a prole, com os doentes, com os idosos.
Podem ser aqueles que fazem da arte do cuidado seu ofício. Pajés, Xamãs, Sacerdotes, crecheiras, professores, educadores sociais, auxiliares de enfermagem, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, massagistas, psicólogos, psiquiatras, etc.

Espera-se do profissional que atua neste campo uma capacidade de escuta e sensibilidade para captar o sofrimento espiritual e humano implicado na doença física e emocional. Mais do que isso, espera-se que esse profissional seja um ponto de referência e apoio não só para o doente, mas também para a sua família.

Isso não é diferente dos cuidadores familiares. Muitas vezes são a eles atribuídos mais responsabilidades e deveres do que ele se propôs.

A arte do cuidado é muito exigente. Pode levar  o cuidador ao estresse, se esse cuidado é uma atitude permanente, seja por obrigações familiares ou profissionais.
Somos limitados, sujeitos ao cansaço e a confrontos com inúmeras decepções e frustrações na vida.

Cuidadores familiares muitas vezes são manipulados por sentimentos de culpa introjetados, em relação ao doente. Outras vezes são manipulados por outros familiares diante da situação de cuidar de alguém.

Profissionais do cuidado enfrentam muitas vezes  precárias condições de trabalho, jornadas fatigante, baixos salários e múltiplos empregos.
Além disso, há questões subjetivas ligadas ao envolvimento emocional com o sofrimento dos doentes. Espera-se que ele cuide com amor.

Como todo humano, o cuidador tem seus problemas, dores, adoecem e sofrem.
É cada vez mais comum o adoecimento e ou morte de cuidadores profissionais ou familiares por infarto do miocárdio, hipertensão arterial, AVC, depressão, ansiedade, suicídio, alcoolismo e outras dependências químicas, além de acidentes automobilísticos, doenças psicossomáticas entre outras.

Os cuidadores profissionais tem princípios e práticas produtoras de saúde e bem-estar social e muitas vezes, encontram-se em conflito, por ter que produzir um discurso puramente teórico visto que, ele mesmo e sua família representam a própria insalubridade e falta de condições dignas de vida e cuidado de si.

Negando a si mesmo o cuidador adoece.

Isso pode ser observado quando há um endurecimento afetivo, quando há “coisificação” da relação, quando o vínculo afetivo é substituído por racionalizações, resultando na perda do sentimento de que estamos lidando com outro ser humano.
Essa falta de envolvimento afeta sua habilidade para realização de seu ofício; assim como a  dinâmica psíquica do indivíduo também vai sofrendo alterações.
Questiona-se o cuidado, a vontade de cuidar se enfraquece. Muitos tornam-se depressivos, ansiosos, com um imenso sentimento de solidão.

Para os profissionais de cuidado até já se denominou este estado – síndrome de Burnout.

Cuidadores ás vezes vão abrindo mão de si mesmos, de descanso, do lazer, do prazer, do auto cuidado.

Em casa de ferreiro,  o espeto é de pau!!!???

Cuidadores  precisam além de orientações para prestar o cuidado, de um olhar especial para suas próprias demandas de ordem física e emocional. 
Devem ter a noção de que  têm seus deveres e seus direitos; sendo um dos principais, o direito de ser feliz e  o direito de cuidar de si. 

Não é possível cuidar de si sem se conhecer. O cuidado de si é certamente o conhecimento de si. Suas forças, fraquezas, necessidades, desejos.
Cuidadores precisam cultivar os seus sonhos e manter acesas suas utopias.

Em nossa sociedade a partir  de um certo momento, o cuidado de si se tornou alguma coisa estranha. Foi visto como uma forma negativa de amor a si mesmo, uma forma de egoísmo ou de interesse individual em contradição com o interesse que é necessário ter em relação aos outros ou com o necessário sacrifício de si mesmo.

Não cuidar de si mesmo e se impor sacrifícios, dificulta e empobrece toda a “ arte do cuidado”.


Cuidar de si pressupõe em muitos momentos, necessidade de auxílio externo.

Cuidadores também precisam se sentir acolhidos e revitalizados, exatamente, como as mães fazem com seus filhos e filhas. Outras vezes sentem necessidade do cuidado como suporte, sustentação e proteção, coisa que o pai proporciona a seus filhos e filhas, como também diz Boff.

E você cuidador, está se cuidando?

Tania Jandira R. Ferreira/novembro 2013