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quinta-feira, dezembro 26, 2013

Ceder não é um ato de fraqueza


Ando refletindo muito sobre conflitos que acontecem, ás vezes sem nenhum motivo sério aparente.
Como gosto muito de desenho animado achei um bem interessante sobre isso.
Ele se chama " A ponte". O nome não podia ser mais apropriado.


Pontes que ligam um espaço a outro, que ligam pessoas e relacionamentos. Que pontes fazemos?
Com quem fazemos? Como destruir algumas que são nocivas?
Espero que seja uma boa reflexão para todos e todas.


segunda-feira, dezembro 09, 2013

Integração escola, família, comunidade – um campo múltiplo de intervenção


Proposta há muito perseguida pelo poder público no país, a integração escola, família, comunidade é um campo múltiplo de intervenção, que enseja uma teia de diferentes conexões.

Quando se fala de “ integração” temos que lembrar que é uma palavra que pode ter diferentes significados pelos diferentes agentes presentes no universo escolar. Significados que podem ser trazidos á cena em conversas, reuniões e nas visitas ao “ território”.

Se olharmos a escola como um “ território” – localizado espaço, materialmente que traz uma cultura, uma história, um signo; que tem “fronteiras” com outros “ territórios” e diversas interfaces com estes, podemos pensar em um “ mapa”.
Mapa este, que pode ser estratégia de diagnóstico e mobilização com vistas á integração/família/comunidade se estas são sensibilizadas à participação.

As famílias habitualmente tem sido chamadas à escola por conta da conduta de seu filho ou pelo seu não rendimento escolar ou coletivamente para socializar problemas da escola. Mobilizações de pais pela ausência de professores nem sempre são bem vindas, e isso ocorre em escolas públicas e particulares.

Integrar as famílias a escola é torná-las parte integrante, é um jogo de “ negociação de fronteiras” que a cada escola/território terá sua singularidade, correspondente com cada “ coletivo família” e “ coletivo escola”. “ Coletivo” entendido como algo não pronto, algo em permanente construção.

Uma multiplicidade de possibilidades.

Cada território-escola terá sua resposta.

Um objetivo que alguns perseguem é de sensibilizar pais para a importância da educação e para a educação que a escola está dando a seus filhos. Outros que os pais possam também discutir e definir sobre esta educação.

Integração “ escola-família” parte do agente/escola como convite a um tipo de participação. Convite sobre algo que busca envolvimento das famílias em que?

Territórios são espaços com regras e poder, simbólicos e materiais.

A palavra comunidade também pode ter diferentes significados para cada agente escolar.
Pode para alguns significar “o conjunto de moradores”, como se fosse um todo homogêneo. Pode significar para outros, grupos específicos de moradores ( como 3ª idade, mães desempregadas) que se entenda tenha alguma necessidade que a escola possa suprir e ainda, grupos organizados da e na comunidade ( escolas de samba, ongs, os., associação de moradores, etc).

Pensar a escola como um território, é pensar quais são as “ fronteiras” negociadas pela escola com a comunidade em busca de integração.

Ceder o  espaço para lazer dos moradores, fora dos seus horários de trabalho, tem sido uma intervenção/estratégia de escolas visando integração da comunidade.
Comunidades estas que se encontram em “ territórios” em muitos casos sem um espaço destinado a este fim.
Lazer/cultura que pode possibilitar trazer a cena “ artistas locais”, a “ cultura local”, mas também possibilitar acesso á outras expressões artísticas, outras conexões, através de exibição de filmes, danças, teatro, etc.
Potencializar a conexão educação–cultura tem sido objetivo que alguns perseguem quando estão falando de integração escola- comunidade.
Ceder o espaço para o lazer da comunidade também pode possibilitar a organização de “ coletivos “ que engendram outras formas de inter relação de moradores, times de futebol, grupos de dança...  

Oferecer “ serviços” a comunidade também tem sido uma intervenção/estratégia de escolas visando integração da comunidade.
Comunidades estas que se encontram em “ territórios”  que em muitos casos não tem quem ofereça estes serviços, mas para que se saiba isso é importante se saber se realmente não existem e aí o “ mapa/diagnóstico” é necessário, para que não haja uma justaposição de serviços e mais que isso, para também se conhecer com que grupos organizados a escola pode contar.
Experiências com grupos organizados das comunidades, que por exemplo trabalhem questões de direitos humanos, pode auxiliar a escola e seus agentes escolares em ter mais entendimento de como os moradores percebem seus direitos, quais são violados e como isso repercute no cotidiano escolar. Uma troca e parceria que pode se dar através de convites para palestras, debates, oficinas.
Experiências com grupos organizados que trabalham danças e esportes com crianças e adolescentes, também tem se mostrado potencialmente interessantes, pois possibilitam trabalhar conjuntamente aqueles hoje chamados hiper-ativos, ou os dislexos, ou os que tem dificuldade de concentração.

Há uma multiplicidade de possibilidades na integração escola-comunidade também.

Aqui também cada escola terá sua resposta singular.

Um objetivo que alguns perseguem nessa questão é de que a escola se insira de fato na comunidade onde está instalada, a percebendo não como  o único agente educacional presente na comunidade, percebendo educação como um projeto mais amplo, que implica em cidadania e participação.
                                                                               
Tania Jandira R. Ferreira/dezembro 2013

segunda-feira, novembro 04, 2013

CUIDADOR, CUIDE-SE...


Cuidadores existiram desde o início da humanidade.
São os membros dos clãs que de uma forma ou outra praticam a “arte do cuidado”.
Podem ser membros da família que tomam para si os cuidados com a prole, com os doentes, com os idosos.
Podem ser aqueles que fazem da arte do cuidado seu ofício. Pajés, Xamãs, Sacerdotes, crecheiras, professores, educadores sociais, auxiliares de enfermagem, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, massagistas, psicólogos, psiquiatras, etc.

Espera-se do profissional que atua neste campo uma capacidade de escuta e sensibilidade para captar o sofrimento espiritual e humano implicado na doença física e emocional. Mais do que isso, espera-se que esse profissional seja um ponto de referência e apoio não só para o doente, mas também para a sua família.

Isso não é diferente dos cuidadores familiares. Muitas vezes são a eles atribuídos mais responsabilidades e deveres do que ele se propôs.

A arte do cuidado é muito exigente. Pode levar  o cuidador ao estresse, se esse cuidado é uma atitude permanente, seja por obrigações familiares ou profissionais.
Somos limitados, sujeitos ao cansaço e a confrontos com inúmeras decepções e frustrações na vida.

Cuidadores familiares muitas vezes são manipulados por sentimentos de culpa introjetados, em relação ao doente. Outras vezes são manipulados por outros familiares diante da situação de cuidar de alguém.

Profissionais do cuidado enfrentam muitas vezes  precárias condições de trabalho, jornadas fatigante, baixos salários e múltiplos empregos.
Além disso, há questões subjetivas ligadas ao envolvimento emocional com o sofrimento dos doentes. Espera-se que ele cuide com amor.

Como todo humano, o cuidador tem seus problemas, dores, adoecem e sofrem.
É cada vez mais comum o adoecimento e ou morte de cuidadores profissionais ou familiares por infarto do miocárdio, hipertensão arterial, AVC, depressão, ansiedade, suicídio, alcoolismo e outras dependências químicas, além de acidentes automobilísticos, doenças psicossomáticas entre outras.

Os cuidadores profissionais tem princípios e práticas produtoras de saúde e bem-estar social e muitas vezes, encontram-se em conflito, por ter que produzir um discurso puramente teórico visto que, ele mesmo e sua família representam a própria insalubridade e falta de condições dignas de vida e cuidado de si.

Negando a si mesmo o cuidador adoece.

Isso pode ser observado quando há um endurecimento afetivo, quando há “coisificação” da relação, quando o vínculo afetivo é substituído por racionalizações, resultando na perda do sentimento de que estamos lidando com outro ser humano.
Essa falta de envolvimento afeta sua habilidade para realização de seu ofício; assim como a  dinâmica psíquica do indivíduo também vai sofrendo alterações.
Questiona-se o cuidado, a vontade de cuidar se enfraquece. Muitos tornam-se depressivos, ansiosos, com um imenso sentimento de solidão.

Para os profissionais de cuidado até já se denominou este estado – síndrome de Burnout.

Cuidadores ás vezes vão abrindo mão de si mesmos, de descanso, do lazer, do prazer, do auto cuidado.

Em casa de ferreiro,  o espeto é de pau!!!???

Cuidadores  precisam além de orientações para prestar o cuidado, de um olhar especial para suas próprias demandas de ordem física e emocional. 
Devem ter a noção de que  têm seus deveres e seus direitos; sendo um dos principais, o direito de ser feliz e  o direito de cuidar de si. 

Não é possível cuidar de si sem se conhecer. O cuidado de si é certamente o conhecimento de si. Suas forças, fraquezas, necessidades, desejos.
Cuidadores precisam cultivar os seus sonhos e manter acesas suas utopias.

Em nossa sociedade a partir  de um certo momento, o cuidado de si se tornou alguma coisa estranha. Foi visto como uma forma negativa de amor a si mesmo, uma forma de egoísmo ou de interesse individual em contradição com o interesse que é necessário ter em relação aos outros ou com o necessário sacrifício de si mesmo.

Não cuidar de si mesmo e se impor sacrifícios, dificulta e empobrece toda a “ arte do cuidado”.


Cuidar de si pressupõe em muitos momentos, necessidade de auxílio externo.

Cuidadores também precisam se sentir acolhidos e revitalizados, exatamente, como as mães fazem com seus filhos e filhas. Outras vezes sentem necessidade do cuidado como suporte, sustentação e proteção, coisa que o pai proporciona a seus filhos e filhas, como também diz Boff.

E você cuidador, está se cuidando?

Tania Jandira R. Ferreira/novembro 2013

segunda-feira, outubro 21, 2013

Animais partilham afeto e alegria que são ações curativas


Vivemos em um mundo complexo onde os afetos entre os humanos se tornam voláteis, apressados; onde muitas pessoas não conseguem mais se encontrar e partilhar afetos, dores, alegrias e esperanças.
Tempo onde o “torpedo” substitui o telefonema e o ouvir a voz do outro, tornando o ser humano cada vez mais isolado apesar de tanta inovação tecnológica.
A companhia de animais, seu carinho e afeto, podem ser um excelente estímulo à vida, nesse mundo complexo.

Nise da Silveira, psiquiatra das mais importantes no cenário brasileiro, começou a perceber e adotar isso, com pessoas com sofrimento psíquico já na década de 70, quando percebeu que nos métodos de terapia ocupacional faltava... emoção.
Ela foi pioneira no Brasil, no uso de animais no tratamento de doentes mentais. Os utilizava como co-terapeutas. Em entrevista a revista Época em 1998, ela já dizia:

Ainda se confia muito no remédio. Remédio não me parece muito eficiente. Pode ter efeito paliativo, mas não curativo. Confio mais no afeto e na ação curativa da alegria.”

Em seu livro "Gatos, a emoção de lidar", ela conta como  despertou para isso. Ela dirigia a seção de terapêutica ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II.
Optou inicialmente por utilizar como método a terapia ocupacional, método considerado de importância menor e até mesmo subalterno, embora sua intenção fosse reformá-lo completamente, pois para ela faltava... emoção.

“Foi quando certo dia um rapaz freqüentador da Terapia Ocupacional, em vez de entrar numa das salas de trabalhos masculinos preferiu entrar na sala de atividades femininas atraído pelas qualidades latentes que pressentia existirem num pedaço de veludo estendido sobre a mesa da sala. Dirigiu-se à monitora Maria Abdo e perguntou: 'Posso com este pano fazer um gato?” 

Completado o gato, Luis Carlos tomou um lápis e escreveu:
   
  “Gato simplesmente angorá do mato
   Azul olhos nariz cinza
   Gato marrom
   Orelha castanho macho
   Agora rapidez
   Emoção de lidar”

Enquanto manipulava seu gato de veludo, com surpreendente habilidade, Luis Carlos parecia feliz e disse: 
- “Como é macio! Sinto grande emoção de lidar com ele entre minhas mãos”. Essa expressão Emoção de Lidar foi ponto de partida para substituirmos o pesado título Terapêutica Ocupacional."

Nise teve vários gatos com quem compartilhava sua vida, com eles aprendeu muita coisa. Na entrevista citada ela diz o porquê sua admiração pelos gatos.

Cultivo muito a independência. Por isso gosto do gato. Muita gente não gosta pela liberdade de que ele precisa para viver. O gato é altivo, e o ser humano não gosta de quem é altivo”.

Seu amor pelos animais e o que eles podem ensinar aos humanos, foi celebrado em várias de suas frases que circulam:

“Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo.”

“Eu me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante.”

A falta de contato humano, não deveria ser substituída pelo contato com animais, mas eles podem nos ensinar muito... sobre o humano.
Eles trazem alegria a ser partilhada, afetos a serem trocados e em muitos momentos nos tiram da alienação... do humano.

Tania Jandira R. Ferreira/outubro 2013

quinta-feira, outubro 03, 2013

FELICIDADE ETERNA OU MÚLTIPLA?


Essa é uma busca da humanidade através dos tempos... isso será uma utopia??
Entendo que felicidade é uma emoção, que tem a ver com plenitude, com afetos, com prazer, com o que nos realiza e nos satisfaz.
Podemos sempre e a toda hora estar felizes?
Depende aonde colocamos nossos afetos e amores, nossas satisfações.
Dá para ser plenamente feliz com alguém querido muito doente, por exemplo?

Tendo vários afetos, vários amores, várias formas de se obter prazer, como - trabalho, família, amigos, alguém especial, a religião, um hobby, um ideal se pode obter alegria, satisfação, plenitude por momentos, horas, dias, mesmo que em uma área da vida as coisas não estejam tão plenas assim.
Tendo várias áreas de afetos e prazer na vida, fica mais fácil.
Se soubermos o que nos excita, o que nos movimenta nos impulsiona para estarmos vivos, podemos viver felizes. O movimento é da excitação à satisfação, sempre.
Plenitude ... pode ser por um momento, mas é satisfação!!!!

Mário Quintana, que é um poeta que amo, uma vez escreveu uma prosa que mostra como as pessoas almejam a felicidade:
"A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista."

E ainda o Mário nos diz:
"DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"

Plagiando Wilhelm Reich eu diria Felicidade eterna ou múltipla?

Tania Jandira R. Ferreira/outubro 2013

terça-feira, setembro 24, 2013

O SEU CORPO EXPRESSA QUEM VOCÊ É




Esse  foi um legado que Wilhelm Reich nos trouxe, nosso corpo expressa como somos, como fomos nos formando, quais emoções ficaram “ congeladas” nele, rígidas... não há como escapar disso... o corpo expressa as emoções e sentimentos que te formam.


É a tristeza acumulada por muitos anos que não se foi.... que se expressa nos olhos, mesmo quando a boca sorri.
É a desconfiança instalada por tantas frustrações com afetos que se teve, que se expressa com o “olhar sempre de lado”, buscando olhar o outro além do que vê....
É o levar a vida como um fardo, que faz com que as costas se arqueiem.

Emoções e sentimentos que bloqueiam não o corpo, mas emoções e sentimentos que poderiam ser diferentes.

Ao desbloquear estas emoções originárias, se desbloqueia o corpo e vice versa, se deixa a pessoa fluir e pulsar perante a vida.

Afinal, nem tudo ou todos nos dão tristezas. A nossa resposta diante da vida, de fatos e pessoas pode e deve ser diferente. 
Quantos nos dão flores sem espinhos e não vemos? Não sentimos? Não experenciamos?
Afinal, podemos largar pesos desnecessários, dividi-los, devolver a quem de direito e poder caminhar mais leve.

Nós podemos, se quisermos... mudar!

Tania Jandira R. Ferreira

terça-feira, agosto 06, 2013

Um mundo na barriga deste está sendo gestado


Quem me acompanha , sabe como amo o Eduardo Galeano, um dos homens mais sábios da atualidade,  que no vídeo abaixo, nos lembra algumas coisas:
Que os intelectuais divorciam cabeça e corpo, separam razão do coração e uma pessoa é tanto cérebro como tripas.
Que não temos que louvar o dinheiro, o dinheiro não pode ter liberdade e sim as pessoas.
Que somos parte da natureza.
Que essas manifestações que acontecem pelo mundo, assim como acontecem no Brasil, são manifestações de dignidade e entusiasmo. Que entusiasmo é ter os Deuses dentro de nós.
Que viver vale a pena para ver isso. Assim como se apaixonar vale á pena!
Que o que acontecerá depois dessas manifestações, não importa. Importa o que são.
Que outro mundo é possível. Que ele está sendo gestado na barriga deste, num parto complicado, mas pulsante!
Vida, Amor, Paixão, ter os Deuses dentro de nós para... não  para ganhar ou perder... mas para viver!
Galeano fala para mim ao meu coração, espero que ao de vocês também!

segunda-feira, julho 22, 2013

ANÔNIMOS OU ZÉ NINGUÉNS, SOBRE AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL



Não dá para eu falar apenas de flores, mas posso aqui falar de minha emoção.
Emoção que me invadiu desde o mês passado ao ver os jovens de novo nas ruas, jovens que chamaram o povo para ir ás ruas falar de sua indignação.
Há muitas análises sobre o que está acontecendo, que coloca para todos nós, sairmos de nossa acomodação de pensamento e refletir.
Refletir sobre a força das redes sociais e como se pode usá-las, não apenas para conversas sem sentido, sem contato. Elas também podem gerar emoção... que transborde, que inflame, que motive, que faça com que cada um saia do seu lugar.
Lembrei de uma música ao ver as manifestações e trago ela em um vídeo que achei.



Ninguém que foi ás ruas em algum momento, sai o mesmo.Todos podem sentir o que se acontece de fato.
E os que não foram as ruas, que possam ir buscar na internet o que  a mídia televisiva não mostrou, o que ela esconde, o que distorce.
Que aqueles que buscam respostas e não se contentam com o que a TV mostra, busquem imagens na internet postadas por diversos anônimos e se ponham a refletir: sobre a violência, sobre o que é de fato violência, sobre que país queremos, sobre que políticos queremos, sobre que democracia queremos, sobre que ética estamos vivendo, sobre que valores temos em nosso dia a dia, sobre o que queremos para nossa vida e o que estas manifestações tem a ver conosco, participantes ou não delas.


As manifestações em nosso país, me levaram a Wilhelm Reich, psicanalista do século XIX, que foi e é uma das minhas mais belas orientações ao meu trabalho.Em  Escuta, Zé Ninguém” um de seus livros dirigidos a todos nós, homens e mulheres comuns que buscam a felicidade,  Reich dialoga com aqueles que sem perceber delegam a outros sua vida, que sem perceber trazem a repressão incrustada em seu corpo, em sua mente, em sua emoção.
Trago alguns trechos do livro para nos ajudar a refletir, sobre como participamos de tudo isso que está acontecendo em nosso país.

 “ Você Zé Ninguém, onde quer que seja que tu consigas o poder político como representante do povo, em qualquer democracia por aí, assumes justamente o que sofrias, isto é, o comportamento sádico e sanguinário dos governantes e metes a mão no dinheiro alheio. Promovido a amo, tuas possibilidades de grandeza, simplicidade, coragem, definham. Lá, na Casa do Povo, não crias as leis que protegem a vida humana. Ou neste outro tipo: Por mais enraizado teu hábito de elogiar os fortes e poderosos, lembra que a exploração do teu trabalho por eles é mais grave do que há 300 anos. O desdém deles pela tua vida hoje é mais brutal, pois eles fazem agora desaparecer todo e qualquer reconhecimento dos teus direitos! E tu os admiras!...”
 “Serias tu o Zé Ninguém que não reclama os teus direitos sobre a tua vida? Não te sentes merecedor do direito à felicidade neste mundo? Não assumes as responsabilidades que te cabe para não te entregares aos teus tiranos? Aspiras quando muito a procriar, a se tornar num grande homem medíocre, tão somente um homem rico não pelo trabalho? Não fazes a mínima idéia do que seja a verdade, ou a História, ou a luta pela liberdade? Eu te compreendo porque conheço a tua vida através da minha própria existência passada.
Escuta, Zé Ninguém, em tempos idos cometemos a covardia de trocar a liberdade pelos fascistas Hitler, Mussolini, Salazar, Franco. Por quê? Temos medo de ser livres. Pobre Zé Ninguém, geraste no teu próprio seio o funcionariozinho místico, sádico e impotente que te levou ao Terceiro Reich e enterrou 60 milhões da tua espécie, enquanto gritavas: Viva! Nós, Zé Ninguéns, louvamos os conquistadores sanguinários, chamamos de terroristas os heróis que combatem as ditaduras, travam suas lutas contra as doenças, a miséria, o sofrimento. Tu chamas de terroristas os torturados que dão a vida por tua liberdade, por justiça a teu favor! Enforcamos os nazistas depois de terem assassinado milhões, mas onde estávamos antes? Temos preferido ser escravos de quem quer que seja. Nenhuma tirania poderia prevalecer contra nós se tivéssemos ao menos uma sombra de respeito por nós próprios na nossa vida quotidiana. Tu vives empolgado com o sangue derramado pelos hunos e atilas de todas as nações, que nada mais são do que milhões de Zés Ninguéns como tu. Devias pensar em servir à vida, não à morte. Devias deixar que marechais e  diplomatas  se matem uns aos outros, pessoalmente...”
“Eu te exorto ao cumprimento das leis apenas quando elas fazem sentido e a romper corajosamente com elas quando escondem armadilhas leoninas. Não creias que para ser religioso seja necessário destruir tua vida afetiva e encolher o corpo e o espírito. O homem precisa apenas ser um ser humano. Mas tu és o povo, a opinião pública, a consciência social. Pensa na responsabilidade gigantesca que esses atributos te conferem. Deves indagar se pensas corretamente, quer do ponto de vista da trajetória social, onde estás inserido, quer da parte da natureza dos atos humanos..”.
“Tu acreditas cegamente em tudo o que os jornais escrevem! Não distingues o abismo de estupidez, mau gosto, mentiras e manipulação dirigidas aos teus ouvidos pelos meios de comunicação! Engoles bovinamente tudo o que te segredam aos ouvidos, ambos surdos à verdade e ao amor!
“Perguntas-me se poderei dizer-te quando saberás viver a tua vida em paz e segurança; a resposta consiste no inverso da tua forma de ser atual: viverás bem e em paz quando a vida significar para ti mais do que a segurança; o amor mais do que o dinheiro; a tua liberdade mais do que as linhas diretivas do partido ou a opinião pública; quando a tua forma de pensar estiver de acordo, e não, como hoje, em discordância, com a tua forma de sentir; quando te for possível reconhecer os teus dotes a tempo e reconhecer a tempo o teu declínio, a tua velhice; quando te for possível viver o pensamento dos grandes homens em lugar dos crimes dos ditos grandes guerreiros; quando os professores dos teus filhos forem mais bem pagos que os políticos; quando tiveres maior respeito pelo amor entre um homem e uma mulher do que por um certificado de casamento; quando puderes  reconhecer os teus erros refletindo a tempo, e não demasiado tarde, como o fazes hoje..”
Não precisamos ter medo ... do medo. Somos todos parte desta história que está acontecendo, querendo ou não. Podemos ser anônimos, mas não temos que ser um Zé ninguém.

Tania Jandira R. Ferreira

quinta-feira, fevereiro 28, 2013

PENSAR SENTINDO

Uma das questões culturais do ocidente que mais traz problemas as pessoas é a dissociação entre o pensar e o sentir. É ensinado a necessidade de separar a razão e a emoção, como se a emoção fosse algo ruim. Uma ameaça ao viver.
Wilhelm Reich alertou isso há muito tempo. A dissociação que se inscreve em nossos corpos nos marca, nos sufoca e dificulta nosso viver.
Essa cultura não só nos dissocia, como também dificulta e impossibilita que estabeleçamos relações genuínas com outros. O outro que é diferente de nós, não é uma ameaça. Pode ser também uma promessa, como diz Galeano.
Trago ele num vídeo curtinho , falando sobre o " sentipensante", sobre a dor e alegria de estar vivo e sobre a invenção do humano.